Um carnaval fora de época em pleno gramado do Maracanã. É o que os organizadores da cerimônia de encerramento da Olimpíada anunciam para a noite deste domingo. Se na abertura a missão era apresentar as maravilhas da cidade-sede, agora o clima é de festa, de comemorar o sucesso dos Jogos ao som de samba, frevo, forró, baião, xaxado e outros ritmos brasileiros.

Criada pela carnavalesca Rosa Magalhães, dona do maior número de títulos do carnaval no Sambódromo carioca (seis campeonatos em 32 anos), a cerimônia terá ícones tanto dos desfiles das escolas quanto do carnaval de rua. Baianas, passistas, casais de mestre-sala e porta-bandeira, ritmistas e um carro alegórico com esculturas de papagaios vão remeter à Sapucaí.

Na trilha sonora, pelo menos dois sambas-enredo históricos: É Hoje (é hoje o dia da alegria/ e a tristeza não pode pensar em chegar), da União da Ilha (1982) e Festa Para um Rei Negro (Ô-lê-lê, ô-lá-lá/ pega no ganzê/ pega no ganzá)”, do Salgueiro (1971). O Cordão da Bola Preta, bloco centenário que sai pelas ruas do centro do Rio desde 1918 – o mais antigo da cidade, é acompanhado atualmente por 1 milhão de pessoas – será representado pela atriz Leandra Leal, sua porta-estandarte.

O ponto de partida do roteiro, que exalta o talento brasileiro, será a Serra da Capivara (PI), sítio arqueológico que reúne os mais antigos vestígios e ocupação humana da América do Sul, de 50 mil anos atrás – coincidentemente, presente no noticiário esta semana por seu estado de penúria: sem repasses, o parque pode fechar. O ápice será o carnaval. “O Rio é uma cidade que tem como hino uma música de carnaval, Cidade Maravilhosa.

A cerimônia marca o fim do fogo olímpico, portanto, tem um toque melancólico. Mas vamos mostrar uma festa alegre, que marque um recomeço. Há uma certa semelhança com o desfile das escolas campeãs do carnaval. Só que lá sempre falta algo, e aqui não faltará nada”, garantiu Rosa, que ganhou um Emmy, o principal prêmio da TV mundial, pela abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no mesmo Maracanã. O segmento artístico da cerimônia foi elogiado pela beleza das fantasias e alegorias que retratavam a fauna brasileira.

SEM ENSAIO

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

A carnavalesca se ressentiu da proibição de fazer um ensaio geral da cerimônia no campo do Maracanã – ontem, ocupado pela disputa do ouro e do bronze do futebol masculino – e também das medidas limitadas das entradas do estádio: “O Maracanã impõe restrições, pois sua maior porta tem quatro por cinco metros. Mesmo assim, garanto que teremos surpresas, como um elemento que vai chegar a 20 metros de altura”, contou.

O fato de a abertura ter sido criada por um trio de cineastas (Fernando Meirelles, Andrucha Waddington e Daniela Thomas) e o encerramento estar a cargo de uma artista plástica, figurinista e cenógrafa, muda “a cara” da festa. As projeções permanecem, mas agora os trajes (desenhados por Rosa e confeccionados no barracão de sua atual escola, a São Clemente, nos últimos meses) e os elementos cênicos levam suas duas marcas: a riqueza de detalhes e o acabamento caprichado.

Os 3 mil integrantes do elenco, 300 dançarinos profissionais e 2.700 voluntários, foram coreografados pelo norte-americano Bryn Walters, que conta quatro Olimpíadas no currículo. Eles ensaiaram num terreno próximo ao Maracanã, numa área com as mesmas medidas do palco montado sobre o gramado (128 por 63 metros). É o mesmo local que serviu ao treinamento para a abertura. Mas, dessa vez, o sigilo que cercou os preparativos foi menor.

‘JÁ DEU CERTO’

“A abertura definiu o tom dos Jogos, criou um ânimo positivo na cidade. É assim em todos as edições: se a cerimônia vai bem, os jogos acompanham. Havia uma angústia sobre como seria a Olimpíada no Rio, que se dissipou ali”, avaliou Flavio Machado, vice-presidente do consórcio Cerimônias Cariocas 2016.

“Agora o clima é de ‘já deu certo’, é bem mais para cima. É para lavar a alma”, sintetizou o diretor de cerimônias da Rio 2016, Leonardo Caetano.

O encerramento conta com orçamento bem menor do que a abertura, o que é tradição nos Jogos. Valores não são divulgados, mas a primeira cerimônia custou R$ 100 milhões, e a segunda, “menos da metade”, segundo organizadores. Marcada para as 20 horas, será também bem mais curta: terá cerca de 2h30 de duração, 1h30 a menos. Ainda há ingressos à venda no site ingressos.rio2016.com. Os preços vão de R$ 200 a R$ 3.000.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias