Adaptar uma história envolvendo fantasmas para o palco exige recursos técnicos que criem no espectador a mesma sensação de uma mágica: a ilusão de o improvável estar acontecendo. Esse é o principal desafio de Ghost – O Musical, que estreou nesta semana no Teatro Bradesco: tornar crível a adaptação do filme sobre o rapaz que morre e cujo espírito permanece perambulando o mundo dos vivos, a fim de proteger sua mulher.

“Assistimos a diversas montagens no exterior e percebemos que a chinesa oferecia melhores recursos de efeitos especiais”, conta Ricardo Marques, produtor-geral, versionista e diretor artístico da montagem brasileira. “É extremamente importante o espectador se sentir satisfeito com a forma como a história é contada.”

De fato, para ser fiel ao filme, Ghost – O Musical necessita de uma parafernália que, entre outros aparelhos, conta com projeções em alta definição e três telões que auxiliam não apenas na ambientação das cenas como principalmente têm papel decisivo nos efeitos. O primeiro momento é justamente aquele em que Sam, o jovem empresário, é assassinado na rua. Com uma morte tão violenta, seu espírito fica preso a este plano, o que o torna uma testemunha privilegiada dos acontecimentos.

No musical, graças a um truque de luz, que escurece a cena, o ator Andre Loddi, intérprete de Sam, cai no solo. Ao levantar, já como espírito, há um ator posicionado em seu lugar e com o mesmo figurino, representando o corpo inerte do jovem. Aparentemente simples, a cena exige rapidez para ter credibilidade. “A luz ajuda a não revelar os efeitos”, observa José Possi Neto, diretor que assina a criação artística do espetáculo. “Os efeitos ajudam a contar bem a história, mas, na nossa versão, optei por algo mais musical – no original, por exemplo, os espíritos só aparecem, enquanto que, na nossa versão, têm números musicais.”

Foi justamente a liberdade em criar um conceito mais brasileiro para a montagem, aliás, que convenceu Possi a aceitar a empreitada. “No primeiro momento, não fiquei animado com o convite, pois não gosto de trabalhar com um produto pronto, mas, ao ler o roteiro, descobri pontos que me interessavam trabalhar, como a relação com os espíritos e o jogo de poder, envolvendo traição e ambição, temas muito atuais.”

A trama acompanha a trajetória de Sam (Loddi) e Molly (Giulia Nadruz), casal cuja relação perfeita é interrompida com a morte dele. Em espírito, Sam descobre que ele foi vítima de um plano do suposto melhor amigo, Carl (Igor Miranda), e que Molly corre perigo. A salvação está em Oda Mae Brown (Ludmillah Anjos), falsa vidente, que consegue ouvir a voz de Sam e, assim, pode ajudar a namorada dele.

“Considero o musical mais interessante que o filme”, comenta Loddy, encarregado de interpretar a canção que se transformou na principal marca da história, Unchained Melody. Sua opinião é compartilhada pelo restante do elenco. “Trouxemos a história para o Brasil, onde também há bandido louro e de olho azul”, comenta Igor Miranda, a respeito do personagem Willie (Franco Kuster), responsável pelo assassinato de Sam.

“As referências continuam muito atuais”, continua Ludmillah, responsável pelos grandes momentos de humor do espetáculo graças à sua impecável composição de Oda, papel que garantiu o Oscar de atriz coadjuvante a Whoopi Goldberg na versão cinematográfica. “Temos violência e charlatanismo em boa dose.”

O discurso amoroso – grande trunfo da história – também é lembrado pelos atores. “O espiritismo é tratado com respeito e reforça a importância de não se esquecer de dizer frases comuns, como ‘eu te amo’”, afirma Giulia Nadruz, cuja voz bela e cristalina assina grandes momentos do espetáculo, especialmente quando se encontra com a experiência e competência do jovem Andre Loddi.

GHOST – O MUSICAL

Teatro Bradesco. Shopping

Bourbon. R. Palestra Itália, 500. Tel. 3670-4100. 5ª e 6ª, 21h. Sáb., 17h e 21h. Dom., 16h e 20h. R$ 30 / R$ 190.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.