“Temos quase o mesmo clima que a Champagne há 100 anos”, exclama Chris Foss, professor de inglês especializado na ciência da vinha. Com o aquecimento global, os produtores de vinho da Inglaterra estão esfregando as mãos: seus vinhos espumantes estão ganhando qualidade e rivalizando com o champanhe.

Andando pelas vinhas de Pinglestone, no sul da Inglaterra, sob um pálido sol outonal, James Bowerman, responsável pelos vinhedos de Vranken-Pommery, sorri. “O pinot meunier realmente floresceu este ano”, diz.

As temperaturas surpreenderam a famosa Maison de champanhe, que recentemente investiu neste canto do sul da Inglaterra para desenvolver vinhos espumantes.

Intrigado com o rápido desenvolvimento da viticultura na Inglaterra, Vranken-Pommery mergulhou na aventura inglesa depois de “se apaixonar” por essa colina de Hampshire de solo calcário. Quinze hectares de chardonnay, pinot noir e pinot meunier, as três típicas cepagens champenois, foram plantadas no ano passado. Mais vinte e cinco hectares serão adicionados em breve.

“Tivemos que regar as plantas em junho, o que é bastante incrível, dada a reputação do clima inglês, que não esperávamos”, diz Clément Pierlot, diretor de vinhedos e gerente da adega de champanhe Pommery e Greno.

A Grã-Bretanha registrou temperaturas bem acima das médias sazonais em grande parte do verão e um déficit de chuvas, ressaltou o Serviço Meteorológico britânico, que espera que o termômetro suba ainda mais nas próximas décadas.

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“Quantos mais anos foram assim, mais teremos estilo” em termos de vinhos, comemora Bowerman.

– A mudança climática, “uma oportunidade” –

Enquanto espera a primeira colheita, Vranken-Pommery produziu um vinho espumante com uvas compradas, chamado Louis Pommery England, um teste considerado bem-sucedido.

“Podemos ter vinhos que sejam bons, expressivos, mas com um bom corpo, um belo frescor”, descreve Clement Pierlot.

Para o ministro do Meio Ambiente do Reino Unido, Michael Gove, a mudança climática é “uma oportunidade”. O espumante inglês oferecerá aos fãs britânicos “ainda mais prazer do que os champanhes franceses”, prevê.

Enquanto a produção de espumantes não é nova na Inglaterra, o número de hectares plantados aumentou 150% nos últimos dez anos. Com quatro milhões de garrafas, representaram 68% dos vinhos produzidos em solo britânico em 2017. Uma parcela que deve subir porque o pinot noir, o pinot meunier e o chardonnay constituem 71,2% das videiras plantadas.

“Saímos de uma indústria caseira para uma indústria florescente”, diz Cherie Spriggs, vinicultora da Nyetimber, uma propriedade cujas primeiras videiras foram plantadas há 30 anos.

Este ano, ela ganhou o prêmio de vinho espumante do ano no International Wine Challenge.

“Há 30 anos era impossível amadurecer o Chardonnay. Os vinhos eram verdes, duros, muito ácidos, não funcionavam. Mas agora não há problema”, ressalta Foss, diretor do Departamento de Vinho do Plumpton College.

Com o espumante, a Inglaterra realmente encontrou seu “nicho”, aponta.

Além de Vranken-Pommery, outra conhecida casa de champanhe, Taittinger, colocou os pés do outro lado do Canal da Mancha, em Kent, para produzir um vinho espumante, cujas primeiras garrafas são esperadas em 2023.


Os britânicos não foram deixados para trás. Ao lado de pioneiros como Ridgeview, ou Chapel Down, fornecedores oficiais da Downing Street, estão novos atores como Rathfinny, ou Gusbourne.

A maioria dos vinhedos fica no sudeste da Inglaterra (Surrey, Sussex e Kent) e Hampshire (sul), mas o aquecimento global abriu novas oportunidades.

Um estudo científico identificou recentemente 34.800 hectares de terra na Inglaterra e no País de Gales (oeste) considerados adequados para o cultivo de uvas por causa de “estações mais quentes”, como em Essex (nordeste de Londres), ou em Suffolk (leste da Inglaterra).

As propriedades inglesas ainda parecem, no entanto, pouco otimistas contra os gigantes de Champagne.

Além disso, o espumante inglês é caro, se comparado ao prosecco italiano, que é um sucesso na ilha.

O Brexit também está preocupando os produtores que empregam funcionários da UE, como em Pinglestone, onde trabalham muitos romenos.

“Se eles não puderem vir (após a saída do Reino Unido da UE, prevista para 29 de março de 2019), será difícil encontrar pessoas qualificadas”, adverte James Bowerman.


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