Com incógnita de Tarcísio, ministro de Lula e ex-prefeito articulam por governo de SP

Montagem/IstoÉ
Márcio França (PSB) e Paulo Serra (PSDB) articulam candidaturas ao governo de São Paulo em 2026 Foto: Montagem/IstoÉ

O ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), e o ex-prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), articulam candidaturas ao governo de São Paulo em 2026.

Em campos ideológicos diferentes, os dois movimentos são estimulados pela indefinição de Tarcísio de Freitas (Republicanos), atual ocupante do cargo. Embora seja candidato declarado e favorito à reeleição, o governador pode ser alçado a uma candidatura presidencial diante da inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), a quem prega fidelidade.

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Velho conhecido

Na oposição estadual, França governou o estado entre abril e dezembro de 2018 — após a renúncia de Geraldo Alckmin (do PSB, e hoje vice-presidente da República) — e não esconde o desejo de retornar ao Palácio dos Bandeirantes desde que perdeu a reeleição para João Doria (então no PSDB) em segundo turno.

O pessebista era pré-candidato ao cargo em 2022, mas abdicou da corrida em favor de um acordo com o PT, que levou Fernando Haddad a disputar o Executivo, e França, o Senado. O petista foi derrotado justamente por Tarcísio, enquanto o ex-governador perdeu para Marcos Pontes (PL).

Entre aliados do ministro, o entendimento é de que o movimento gerou uma “dívida política” que pode consolidar sua candidatura ao governo com apoio do presidente Lula (PT) em 2026À IstoÉ, o sociólogo Fernando Guimarães, vice-presidente estadual do PSB, disse que o colega é “lembrado e reconhecido” para o cargo e seria capaz de “aglutinar apoios nos diversos partidos e setores da sociedade”.

Precisamos construir candidaturas aos governos estaduais que reúnam as condições de conduzir o campo democrático [base de Lula] às vitórias frente ao campo de índole autocrática [representado, para ele, por Tarcísio]”, afirmou Guimarães.

A posição está alinhada às estratégias do campo lulista para 2026, quando estão previstos apoios a políticos de fora do PT para os governos estaduais, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste, onde a esquerda enfrenta maior rejeição. O próprio presidente defendeu o senador Rodrigo Pacheco (PSD) para o governo de Minas Gerais, e a possível candidatura do prefeito Eduardo Paes (PSD) no Rio de Janeiro deverá ter endosso petista.

Com incógnita de Tarcísio, ministro de Lula e ex-prefeito articulam por governo de SP

Márcio França (PSB) ao lado do presidente Lula (PT), de quem espera ter apoio ao governo de São Paulo em 2026

Pesa a favor da articulação a competitividade de Haddad no estado em 2022, considerada fundamental para a eleição de Lula. Mesmo derrotado, o ministro da Fazenda teve 44,73% dos votos no segundo turno e ficou à frente de Tarcísio na capital paulista, em cenários que se repetiram na disputa presidencial.

Como Haddad não quer disputar as eleições de 2026 e outros nomes do PT não animam, o cenário em São Paulo pode ser bem mais duro para os planos de reeleição do presidente. Em pesquisa divulgada pelo Datafolha em 10 de abril, os nomes do campo com melhor pontuação para o cargo foram França e Alckmin. O PSB quer o vice-presidente onde está, e “abre alas” para o ministro do Empreendedorismo entrar na corrida.

Agenda de governador

No campo da centro-direita, as pesquisas recentes inseriram um novo personagem na disputa pelo espaço de Tarcísio. Em levantamento da Paraná, Paulo Serra registrou de 3,0 a 5,9% das intenções de voto nos cenários em que enfrenta o mandatário, mas chegou a 6,5% sem Tarcísio no páreo, em empate técnico com Alexandre Padilha (PT) e à frente de Gilberto Kassab (PSD), secretário cotado para a sucessão do governador.

A empreitada do tucano é municiada pelos altos índices de aprovação conquistados nos oito anos à frente da prefeitura de Santo André, quinta cidade mais populosa do estado, onde viu o sucessor (Gilvan Júnior, também do PSDB) ser eleito com facilidade.

Por outro lado, Serra integra e preside o diretório estadual de um fragilizado PSDB, que teve seu pior desempenho da história nas eleições de 2022, elegeu 276 prefeitos em 2024 e perdeu predomínio em São Paulo — estado que comandou durante 28 anos. Com poucos recursos para fazer campanha, tempo reduzido de propaganda eleitoral e dificuldades para se fundir a outra legenda, a manutenção no partido dificultaria uma candidatura ao Bandeirantes.

Para driblar as dificuldades, o tucano tem percorrido o estado para encontros com prefeitos, em agenda típica de pretendente a governador. Nos últimos dias, se reuniu com os mandatários de Itaquaquecetuba, Eduardo Boigues (PL); São Bernardo do Campo, Marcelo Lima (Podemos); Mauá, Marcelo Oliveira (PT); Diadema, Taka Yamauchi (MDB); Rio Grande da Serra, Akira Auriani (PSB); Arujá, Luis Camargo (PSD); e Franco da Rocha, Lorena Oliveira (Solidariedade).

Com incógnita de Tarcísio, ministro de Lula e ex-prefeito articulam por governo de SP

Paulo Serra (PSDB) ao lado de Eduardo Boigues (PL), prefeito de Itaquaquecetuba: encontros reforçam pré-candidatura ao governo do estado

Cinco dos sete listados estão na base de Tarcísio, e novos encontros devem acontecer nos próximos dias. Em entrevista concedida à IstoÉ em outubro de 2024, o ex-prefeito reconheceu que qualquer movimento da centro-direita para pleitear o Bandeirantes passa pela definição eleitoral do governador.

A decisão dele [sobre 2026] é fundamental para o planejamento de outros partidos, incluindo o próprio PSDB. Se for candidato a presidente, Tarcísio ocupa essa raia [da direita] e, ao mesmo tempo, deixa um vazio no estado de São Paulo, porque os números mostram que ele seria franco favorito à reeleição. Caso deseje renovar o mandato, ele quase define a eleição estadual“, afirmou.

Neste momento, o governador declara fidelidade a Bolsonaro e não articula candidatura ao Palácio do Planalto, mesmo com a situação ruim do aliado. Uma das razões é a percepção de que garantir a reeleição seria mais viável, dada a aprovação de seu trabalho pelos paulistas — a mesma que anima os candidatos ao seu espólio.