08/01/2020 - 16:30
A partir do próximo mês, o Palmeiras não deve ter mais o problema que tanto incomodou a torcida e atrapalhou a relação com o Allianz Parque nos últimos cinco anos: não poder jogar no local por causa de shows. Com a instalação do gramado sintético no estádio, a promessa é de conciliar a agenda musical com o calendário do futebol e ainda conseguir uma grande economia. A previsão é que o novo piso tenha manutenção mensal até 85% menor do que a grama natural por dispensar reparos complexos e não precisará ser trocado no mínimo pelos próximos 15 anos.
O campo sintético será uma novidade tanto na arena como na Academia de Futebol. O clube fez questão de colocar o gramado no centro de treinamento para preparar melhor os jogadores. O Palmeiras bancará a instalação do novo piso no CT. No estádio, o Allianz Parque é quem pagará a reforma. Os valores não foram revelados, mas o Estado apurou que em no máximo um ano e meio o investimento estará recuperado.
A obra de colocação do gramado sintético já teve início na Academia de Futebol. No estádio, a mudança deve começar em breve. A instalação demora 30 dias. Por isso, é provável que o Palmeiras tenha de recorrer ao Pacaembu para enfrentar como mandante o São Paulo e o Oeste, pelo Campeonato Paulista.
Quando há essa coincidência de datas de jogos e de shows, o Palmeiras costuma se prejudicar por gastar com o aluguel de um outro estádio, como no caso do Pacaembu, e arrecadar menos com bilheteria. Já administradora da arena, perde dinheiro por ter de ressarcir o clube. Desde a inauguração do Allianz Parque em novembro de 2014, em 27 ocasiões a equipe não conseguiu atuar dentro de casa.
Agora a promessa é a situação não se repetir. Uma grama com tecnologia inédita nas Américas e idêntica à usada no CT da seleção holandesa vai dar ao time a chance de atuar no Allianz Parque em até seis horas depois de um show. “A grama tem uma espécie de memória. Se você colocar o palco em cima, ela deita. Quando você tirar, ela retorna para posição, sem estrago ou dano”, disse à reportagem o presidente da Soccer Grass, Alessandro Oliveira. A empresa é a responsável pela execução da reforma.
O Palmeiras enviou representantes à Holanda em outubro do ano passado para conhecer o piso sintético. Membros da diretoria, da comissão técnica e do departamento médico fizeram testes e gostaram bastante da tecnologia, considerada mais avançada que a utilizada no gramado artificial da Arena da Baixada, em Curitiba. O gramado palmeirense é feito de polietileno e terá altura de 5 centímetros.
O principal diferencial com relação a outros pisos sintéticos está no preenchimento das fibras da grama. Em vez de borracha, presente em quadras amadoras, ou de fibra de côco, utilizada no Athletico, o campo palmeirense terá material sintético chamado de TPE (elastômero termoplástico), feito na Itália. São partículas cilíndricas de até 5 milímetros de comprimento. Por serem pesadas, não grudam nos uniformes dos jogadores.
“O tipo de enchimento que vamos usar é diferente. A fibra de côco precisa ser molhada, então escorrega mais. Já o TPE absorve bastante o impacto e tem uma composição que ajuda o piso a ficar muito próximo à grama natural”, afirmou Oliveira. As fibras têm ainda como vantagem ajudar a resfriar o piso em até 15ºC em comparação a outros preenchimentos existentes. Em cada um dos 9 mil metros quadrados do Allianz Parque serão precisos 15 kg de enchimento.
O novo gramado tem certificação da Fifa emitida por laboratórios na Europa e Estados Unidos. O piso foi aprovado em testes que avaliaram critérios como trajetória da bola, uniformidade do solo e rotação da chuteira. Por ter uma superfície bem regular, o campo deve oferecer menos riscos de lesões causadas por pisões em buracos ou pelo desprendimento de pedaços de grama. Os rolos com a nova grama chegaram ao Brasil nesta semana após viagem de navio da Holanda e desembarque no porto de Navegantes (SC).
O piso sintético tem como base uma tela de polietileno e propileno. Os tufos da grama são entrelaçados três vezes no suporte, para dar segurança. Para o Allianz Parque, vão ser necessários cerca de 30 blocos de piso. Cada um deles tem cerca de 4 metros de largura por 78 metros de comprimento. Abaixo deles, será posicionada uma manta de amortecimento de espuma, feita na Alemanha. No novo campo, os jogadores não vão precisar utilizar chuteiras diferentes dos modelos convencionais. A expectativa é que mesmo em dias chuvosos os atletas possam calçar modelos com travas de borracha, próprias para pisos secos.
A escolha pelo gramado sintético foi resultado de pelo menos três anos de discussões sobre como administrar a agenda e melhorar a qualidade do gramado. O Allianz Parque testou recentemente diferentes técnicas de plantio do campo e de montagem e desmontagem do palco. Porém, preferiu apostar em outra alternativa para conseguir conciliar o futebol com o cronograma de shows. Apenas para este ano estão garantidas até agora oito apresentações na arena.
ECONOMIA – O Estado apurou que a manutenção mensal do piso sintético chega a ser 80% mais barata do que a grama natural por dispensar atividades como irrigação constante, reparos de jardinagem e a troca várias vezes ao ano. No caso do Allianz Parque, a estimativa é economizar até R$ 100 mil por mês com iluminação artificial, que era necessária para compensar a falta de luz natural em partes do piso.
“A manutenção será basicamente escovar o gramado e repor o enchimento”, disse o presidente da Soccer Grass. Ao fim dos shows no Allianz Parque, será preciso fazer uma limpeza com uma máquina especial, com imã. A varredura vai conseguir retirar restos de peças metálicas, casos de parafusos ou partes perdidas de estrutura do palco.
Segundo o responsável pela execução da reforma, não há problema do piso ser utilizado com muita frequência em partidas. “Quanto mais usar, melhor vai ficar o gramado. O enchimento vai se acomodar mais, fica mais nivelado, fibras ficam mais em pé, melhora a qualidade do fio. A drenagem também é muito boa em caso de chuvas”, explicou.
A Soccer Grass também vai cuidar de um dos gramados utilizados na Florida Cup. Um campo em dimensões reduzidas será montado dentro de um dos parques da Disney e que receberá um torneio de ex-jogadores terá o trabalho da empresa.