SÃO PAULO, 21 ABR (ANSA) – Por Tatiana Girardi – As eleições deste domingo (23) na França poderão colocar em xeque o futuro do país na União Europeia. Oito dos 11 candidatos ao mais alto cargo político do país se declaram eurocéticos ou contrários, de alguma forma, ao projeto europeu.   

Entre aqueles que estão na disputa, a mais famosa do grupo de eurocéticos é a líder do Frente Nacional, de extrema direita, Marine Le Pen, que aparece na segunda colocação nas pesquisas de intenção de voto. Outro que está entre os possíveis vencedores do primeiro turno, o representante da esquerda radical, Jean-Luc Melénchon, segue pelo mesmo caminho.   

Além desses dois candidatos, que travam uma disputa acirrada com os europeístas Emmanuel Macron (Em Movimento!), François Fillon (Os Republicanos) e Benoît Hamon (Partido Socialista), mais seis se declaram contrários ao bloco – tanto à direita como à esquerda: Nathalie Arthaud (Luta Operária), Philippe Poutou (Novo Partido Anticapitalista), Jean Lassalle (Resistir), Jacques Cheminade (Solidariedade e Progresso), François Asselineau (União Popular Republicana) e Nicolas Dupont-Aignan (Debout la République!).   

Mas o que levou a França, um dos países fundadores do bloco econômico, a ter tantos candidatos eurocéticos? “Há uma sensação generalizada na França de que o país não está indo bem e que algumas das ações políticas da UE, principalmente a moeda única e as fronteiras abertas, contribuem para o mal-estar da França.   

Nós vemos isso em outros países também. Tem uma certa ligação na cabeça das pessoas de que a UE é culpada pelos problemas do país”, destaca o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP), Kai Lehmann.   

Já o cientista político da Universidade Mackenzie, Mauricio Fronzaglia, vê a questão por um ponto de vista diferente, em que acredita que “o fato de serem oito eurocéticos não quer dizer que a população francesa, em geral, seja eurocética”.   

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“Essa questão do eurocético, obviamente, tem a ver com a crise econômica que se arrasta por alguns países europeus e com a saída da Inglaterra, mas ela não parece representar a vontade de boa parte da população francesa”, ressalta Fronzaglia. Segundo o cientista político, a questão não é olhar a quantidade de candidatos contrários à União Europeia, mas sim centrar as atenções na “candidata eurocética mais forte, Marine Le Pen”.   

Com seu discurso contrário ao bloco, a líder do Frente Nacional já anunciou que pretende levar adiante o “Frexit”, a saída da França da União Europeia, e fechar as fronteiras para imigrantes – sejam legais ou não. Diferentemente de seu pai, Jean-Marie Le Pen, que fundou a sigla de extrema direita, Marine consegue atrair mais pessoas com suas ideias e conta com um fator externo que a ajuda: a onda de atentados terroristas.   

“A França sofreu vários atentados desde o Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, e esse discurso ganha uma ressonância maior, ele ganha um público maior. E, em momentos de crise, os discursos radicais têm um impacto maior do que quando tudo está bem na política e na economia. Na crise, a sensação de insegurança pode levar a uma simpatia pela candidata do Frente Nacional”, afirma Fronzaglia.   

Para Lehmann, aliado aos ataques há o fato de que essa tendência em prol do discurso de Le Pen é algo “crescente ao longo de vários ciclos eleitorais”.”Tem um elemento eurocético que cresce há algum tempo, mas tem coisas específicas dos últimos cinco anos que contribuem: os problemas econômicos que o pais tem, a série de ataques terroristas que o país vem sofrendo nos últimos anos, contribuindo para essa sensação anti-Europa”, diz.   

No entanto, Fronzaglia destaca uma postura francesa que pode evitar o “Frexit” – mesmo com o sentimento anti-europeu. “Embora haja muitos candidatos eurocéticos, a história da França com a União Europeia é diferente da Inglaterra com a UE. A França estava na fundação da União Europeia. A França, na Presidência do general [Charles] De Gaulle, já não via com bons olhos a aproximação da Inglaterra com a UE, e a Inglaterra nunca foi tão ligada à União Europeia. A França tem uma bagagem histórica maior e um comprometimento histórico maior com a União Europeia”, conclui. (ANSA)


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