Enquanto o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), seguiu a linha de ideologizar as discussões por meio de temas morais, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e a deputada estadual Martha Rocha (PDT) protagonizaram bons embates e se destacaram no primeiro debate para a Prefeitura do Rio. Paes lidera as pesquisas, enquanto Martha aparece em terceiro e tenta tirar Crivella do segundo turno. No primeiro encontro deste ano, organizado pela TV Band, as gestões do atual e do ex-prefeito foram atacadas pelos demais candidatos.

Ao contrário das brigas constantes que marcaram a disputa pelo governo estadual em 2018, o primeiro debate deste ano foi, na maior parte do tempo, morno. Temas que eram esperados, como os “Guardiões do Crivella” e o “QG da Propina”, acabaram quase ignorados. Os ataques ao atual prefeito se concentraram mais na sua impopular gestão do que nos escândalos que marcaram os últimos meses. O fato de Paes ter virado réu por suposto caixa 2 em 2012 também não foi abordado, tampouco o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Martha e Paes foram os que melhor conseguiram mesclar relatos de suas experiências pessoais com visões sobre a cidade. Eles também tiveram discussões quentes entre si, com direito a provocações. Num cenário de fragmentação e de certo marasmo, esses embates despontaram como os mais interessantes da noite.

Em um momento-chave, os dois discutiam as contas do município quando a ex-delegada subiu o tom. Ela apontou o fato de o ex-prefeito ter comandado a cidade num momento de grandes eventos, como a Olimpíada, e desperdiçado a oportunidade de transformá-la em “referência em saúde e educação”. Após Paes ironizar o fato de a candidata ter citado um suposto rombo – infactível – de R$ 320 bilhões nos cofres cariocas, Martha atacou outro aspecto do ex-prefeito: sua personalidade.

“Esse jeito malandro de ser, debochado e desrespeitoso, o carioca não aguenta mais. O carioca quer andar de cabeça erguida. Esse filme o carioca não quer de novo. O teu filme não vale a pena ver de novo.”

Os dois voltaram a se enfrentar no bloco seguinte, quando foi a vez de Paes partir para um duelo mais incisivo. Citou números da Polícia Civil durante o período em que Martha comandou a corporação para alegar que havia sido uma má gestão – entre eles, o aumento nos registros de estupros. Também destacou o fato de a deputada nunca ter ocupado cargos na Prefeitura. “A senhora não conhece a Prefeitura do Rio, nunca esteve perto da gestão municipal. Respeito seu mandato, seu trabalho como deputada, mas nós precisamos nesse momento delicado da cidade alguém com experiência.”

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Martha respondeu lembrando do episódio em que o ex-prefeito foi acusado de machismo ao dizer que uma mulher negra iria “transar muito” após receber sua casa própria. “Quero dizer para o senhor que a violência contra a mulher e o respeito às mulheres sempre foram uma missão e uma promessa da minha vida”, disse. “Esse aumento (de estupros) foi porque se uniu num único crime o atentado violento ao pudor e o estupro.” Em outro momento, voltou a emplacar uma frase de efeito: “Existe vida depois de Eduardo Paes.”

Embate bolsonarista

Outro embate que marcou a noite se deu entre Crivella e Luiz Lima (PSL), os dois nomes que se apresentam como os candidatos do presidente Jair Bolsonaro – que não vai declarar apoio a ninguém no Rio no primeiro turno. Lima citou de passagem o episódio conhecido como “Guardiões” para criticar o prefeito, em referência à reportagem da TV Globo que revelou o esquema de cerceamento ao trabalho da imprensa na porta de hospitais. Foi quando Crivella tentou associar o adversário à Globo e usou um dos principais bordões dos bolsonaristas.

“Eu sei da sua ligação com a Rede Globo de Televisão. Ela é inimiga jurada do meu governo”, disse, sem dar detalhes de que ligação seria essa. “Luiz, você foi eleito com o Bolsonaro. Meu conselho para você: se separe da Rede Globo de Televisão. Eu queria que você falasse: Globo lixo, Globo lixo.”

Estratégias

Logo no primeiro minuto que teve para se apresentar, no início do encontro, o favorito Paes já deixou claro o caminho que quer seguir ao longo da campanha: uma comparação entre a gestão Crivella e os seus mandatos. Nesse contexto, rebateu a alegação do atual prefeito de que o Rio teria sido referência no combate ao coronavírus. “Ao contrário do que disse o prefeito aqui, o índice de mortalidade do Rio foi o dobro do de São Paulo. As clínicas da família sem funcionar, o BRT… Dobrou o índice do desemprego. O carioca tem na memória que na nossa gestão as coisas eram muito melhores”, disse.

Crivella buscou, a todo momento, alegar que herdou dívidas e uma “corrupção anômica” da gestão Paes. Atrelou a isso os problemas do seu mandato e disse que agora a cidade “está saindo da crise”. Por outro lado, buscou a única saída possível para driblar sua impopularidade: ideologizar o debate por meio de temas morais e sem relação com a Prefeitura. Na primeira oportunidade que teve de formular uma pergunta, escolheu Renata Souza, do PSOL, e perguntou sobre a suposta “ideologia de gênero” nas escolas.

“Se o PSOL ganhar a eleição, as escolas vão ter o que as crianças deveriam ter em casa: orientação sexual. Vai ter kit gay nas escolas e a liberação das drogas”, afirmou, antes de receber críticas da deputada estadual por ignorar problemas graves da cidade.

Quase todos os participantes atacaram a administração Crivella – que tem mais de 70% de rejeição nas pesquisas. Ele conta com a tentativa de associação ao bolsonarismo e com as máquinas pública e da Igreja Universal para tentar se reeleger.

Participaram do debate os seguintes candidatos:

– Eduardo Paes (DEM)


– Marcelo Crivella (Republicanos)

– Martha Rocha (PDT)

– Benedita da Silva (PT)

– Luiz Lima (PSL)

– Eduardo Bandeira de Mello (Rede)

– Clarissa Garotinho (PROS)

– Renata Souza (PSOL)

– Glória Heloiza (PSC)

– Paulo Messina (MDB)

– Fred Luz (Novo)


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