Em 2014, quando a última etapa do Programa Luz para Todos, do governo federal, chegou a Capão Celado, mulheres da comunidade localizada em Buritizeiro (MG) fizeram, na enxada, uma picada de suas casas até o último poste instalado. “Ter luz ajuda demais”, diz Zelu Veloso, uma delas, hoje com 65 anos. Mas a energia elétrica ainda não chegou às oito famílias de veredeiros, como são chamados os produtores que vivem de pequenas criações de gado e extração de coco de buriti. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) não fez a ligação porque a Ligas de Alumínio S.A. (Liasa) conseguiu na Justiça barrar a continuidade do trabalho.

Quando a empresa chegou à localidade, nos anos 1960, as famílias já moravam ali. Elas reclamam que a companhia quer expandir sua posse. “Ela reconhece que a gente é dono disso aqui, mas não deixa de perseguir”, afirma Messias Afonso Veloso, marido de Zelu, um ex-tropeiro de 77 anos.

O jornal O Estado de S. Paulo procurou a direção da Liasa em Belo Horizonte e Pirapora, mas a empresa não quis se pronunciar. O escritório de advocacia que atende a empresa na capital mineira afirmou que o processo envolvendo a Liasa e as famílias é de sigilo empresarial.

A Cemig informou que Messias fez três pedidos de luz. Nos dois primeiros, em 2009, faltaram informações. Em 2012, foi apurado que o atendimento era “irregular”, pois constava que ele e demais solicitantes eram “posseiros”. A Liasa apresentou uma escritura da terra à Cemig e carta negando “servidão de passagem” para levar luz às casas. A condição de “posseiros” não impediu que a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba instalasse caixas d’água nem que a prefeitura de Buritizeiro abrisse escolinha na comunidade – hoje fechada.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, desde 2014 a Agência Nacional de Energia Elétrica considera que a energia está “universalizada” na região. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.