O museu “Terra do Rei” é um dos pontos turísticos mais visitados de Três Corações, cidade do sul de Minas Gerais onde Pelé nasceu. Lá estão objetos, fotos, reportagens, quadros e documentos, cada cantinho da vida de Pelé. Também forram as paredes branquinhas os feitos do pai de Pelé, Dondinho, ex-jogador do time da cidade, o Atlético de Três Corações, por volta de 1930 e 1940. A visita ao museu também vale pelas coisas que ele ainda não mostra.

Uma sala vazia, em reforma, espera as fotos e documentos da história que está sendo feita agora com a contratação de Edinho, filho de Pelé e neto de Dondinho, como técnico do Tricordiano, novo nome do Atlético de Três Corações. A família real, a mais importante do futebol mundial, agora, está completa com avô, pai e filho. Quem disse que museu só vive de passado?

“A primeira sensação de treinar o Tricordiano é de orgulho. A gente revive a história e o legado. Meu pai não jogou no clube, mas ele é da cidade. Foi meu avô, Dondinho, quem vestiu essa camisa e pisou nesse campo. É a memória do meu avô que vive dentro de mim na hora do trabalho”, disse o técnico Edinho ao jornal O Estado de S.Paulo.

O mais legal é a maneira como Edson Cholbi do Nascimento fala tudo isso. Ele tem um vozeirão, mais grave que o do pai, fala olhando no olho. Na tarde quente de uma segunda-feira, antes do treino, está no meio do gramado onde o avô brilhou. E o discurso, claro e coerente, bambeia ao falar do antepassado que morreu em 1996 aos 79 anos. João Ramos do Nascimento era ídolo em Três Corações. Em 1939, fez cinco gols de cabeça no clássico contra o Yuracan, de Itajubá. Foi herói da conquista da Taça Guaraína em 1941, um dos xodós do acervo do museu.

Outra imagem memorável é uma montagem fotográfica que reúne avô, pai e filho. “Isso nunca mais vai acontecer. É o filho do Rei, na terra do Rei, vestindo a camisa do avô. Quero deixar minha marca no clube não só por essas questões, mas também por aquilo que a gente vai construir”, disse.

Edinho começou a construir a sua história neste sábado, na estreia no Campeonato Mineiro contra o Uberlândia, em Muriaé. O diretor de futebol Henrique Sales, responsável por uma reformulação total com a contratação de 25 jogadores, sonha com um lugar entre os quatro melhores do Estado. Meta difícil. Uma vaga na Série D seria o plano B.

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O gestor ambiental Edson Gregório, que visitou o museu na última segunda-feira, vê outros objetivos na contratação de Edinho. “A vinda dele pode trazer mais patrocínios e atrair empresas para apoiar o time e cidade”.

CASA – Pelé esteve quatro vezes em Três Corações. A última foi em 2012 na inauguração da Casa Pelé, uma réplica do lugar onde ele nasceu. Construída a partir das memórias de Dona Celeste Arantes do Nascimento e seu irmão Jorge, mãe e tio de Pelé, a casa recria o ambiente de 1940, data de nascimento do Rei. Os móveis e objetos foram adquiridos em fazendas, brechós e antiquários. O rádio toca músicas da época; o fogão a lenha e as lâmpadas de baixa voltagem embalam uma volta ao passado. Edinho esteve na inauguração.

Voltando às raras visitas de Pelé, muita gente vê um saldo devedor. Torcedores esperam que a presença de Edinho na cidade facilite o contato com o presidente de honra do Tricordiano. “A presença do Edinho é uma grande oportunidade para resgatar o vínculo do Pelé com a cidade”, disse o secretário de Comunicação, Altair Nogueira.

Pelé pode voltar à cidade ainda no Campeonato Mineiro. Apesar dos problemas de saúde, ele prometeu ao filho ver um dos seus jogos caso o Tricordiano avance às fases finais. Pai e filho se falam com frequência. Edinho conta que não costuma pedir conselhos táticos ao Rei, mas que o contrário acontece. “É um grande reconhecimento ele me perguntar sobre futebol”.

Edinho ainda não comprou uma casa em Três Corações e faz apenas o trajeto treino/hotel/treino. “Fui recebido como um filho”. Amigos contam que ele nem conseguiu comer quando foi ao principal restaurante da cidade, tamanha a quantidade de selfies que teve de tirar com os tricordianos.


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