O incansável Zé Roberto pensa em futebol o dia todo. Aos 44 anos, o agora assessor técnico da diretoria do Palmeiras concilia nas últimas semanas o trabalho no clube com a montagem do memorial particular sobre a carreira e os preparativos para participar de um jogo em sua homenagem no domingo. Em campo, no Allianz Parque, estará uma equipe formada pelos amigos do ex-jogador diante de um time de ídolos do Palmeiras.

Zé Roberto recebeu o Estado em sua casa para uma entrevista exclusiva em que lamentou a atuação da seleção na Copa do Mundo, defendeu Gabriel Jesus e se disse surpreso por ser idolatrado pelos palmeirenses.

Você sente falta da carreira de jogador de futebol?

No início eu senti falta. A função que exerço no Palmeiras exige estar muito presente. Ajudo na transição da base para o profissional, então preciso ir muito aos jogos. Tive um ano corrido. Estou motivado em fazer o que faço no clube, ajudar a base, ser o elo no vestiário entre diretoria, comissão técnica e jogadores.

Tem sido muito complexo lidar com as categorias de base?

É muito diferente em comparação à minha época. Hoje são muitos recursos à disposição. Na minha época, a Portuguesa teve de me tirar de casa e me colocar em um hotel para eu me alimentar melhor. Infelizmente, no Brasil, os garotos às vezes não se desenvolvem porque têm as coisas muito fáceis. Com 16 anos, se ele não está sendo aproveitado pelo treinador, já fala com o empresário, diz que não está contente e vai para outro clube. Hoje, os empresários estão praticamente dentro do clube e acompanham muitos desses atletas.

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A seleção brasileira é inferior às seleções europeias?

O Brasil já está há alguns anos atrás de outras seleções. Por mais que os jogadores da seleção estejam na Europa, o Brasil não conseguiu ter um time que tem cara de campeão. O Brasil está um patamar abaixo da França, Croácia e Espanha. Até mesmo o Tite, que era uma unanimidade, recebeu críticas depois da Copa.

Como o Brasil pode reagir?

O Brasil tem talentos. Agora começa a surgir uma nova safra de jogadores. Tomara que esse grupo seja mantido. Se o Tite conseguir juntar essas peças de uma nova geração com os jogadores que o Brasil já tem, voltaremos a ser temidos.

Na última Copa, o Gabriel Jesus, que foi seu colega de Palmeiras, saiu muito criticado. O que achou disso?

A forma como fizeram algumas críticas sobre ele eu achei exagerada. Claro que um atacante da seleção não fazer um gol em uma Copa é de estranhar. Se você for olhar o lado tático, pelo papel do Gabriel Jesus dentro do campo, seria muito difícil ele fazer um gol. Ele tinha que recompor, ajudar na marcação e, quando a seleção saía no contra-ataque, muitas vezes ele chegava tarde ou se cansava no segundo tempo. Se tivesse jogado na posição que estava acostumado, faria uma Copa melhor.

Você imaginou que se tornaria ídolo da torcida do Palmeiras?

Foi uma surpresa. Eu fiz parte de uma transformação do clube. Quando saio na rua, o torcedor do Palmeiras me cumprimenta, mas não fala dos títulos, de eu ter sido o capitão na Copa do Brasil ou da conquista do Brasileiro depois de 22 anos. O que mais comentam é a preleção que fiz antes do nosso primeiro jogo, em 2015. Tem torcedor que me abraça e fala: “Quando você falou com aquela vontade aos companheiros, eu acreditei nas suas palavras”. A minha palestra foi mais marcante do que os títulos conquistados.


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