O concurso público para preencher 11 vagas no Instituto Butantã em São Paulo virou alvo de críticas da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC). A organização aponta que as contratações são insuficientes para preencher um vácuo de 487 vagas de pesquisadores em diferentes institutos de pesquisa ligados à Secretaria de Estado da Saúde (SES).
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Segundo o levantamento feito pela APqC, há 855 cargos de pesquisador previstos em lei para a SES, e apenas 368 estão atualmente preenchidos. ” Sem investimentos, estamos negligenciando o tempo de reposta para crises que seguem desafiando a sociedade, como dengue, zika, chikungunya, malária, febre amarela, chagas, dentre outras”, afirma a presidente da APqC, Helena Dutra Lutgens.
Procurada pela IstoÉ, a SES disse em nota que “reafirma seu compromisso com a valorização dos pesquisadores e, informa que elaborou uma proposta que prevê a reestruturação da carreira destes profissionais, com reajuste salarial e avaliando critérios técnicos e funcionais. No momento, a proposta está sob análise”.
O concurso aberto teve edital publicado na quinta-feira, 17. Os inscritos disputarão 11 vagas com diferentes especialidades, todas no Instituto Butantan.
Nenhuma contratação seria feita para outros órgãos de pesquisa vinculados à SES como o Instituto Dante Pazzaneze de Cardiologia; o Instituto Lauro de Souza Lima, centro de referência internacional no tratamento de hanseníase; e o Instituto da Saúde, Laboratório de Investigação Médica (LIM), vinculado ao Hospital das Clínicas (HC-USP).
A APqC critica ainda o salário de R$ 5.037,04 oferecido para os pesquisadores no concurso aberto pelo governo estadual. A organização compara com o ordenado inicial de R$ 12.814,61 oferecido em concurso para pesquisadores da Embrapa em 2024.
Falta de pesquisadores atinge outras secretarias
Os dados da APqC apontam que a Saúde não é a única área com falta de pesquisadores no estado de São Paulo.
Na Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), responsável por órgãos de pesquisa o Instituto de Economia Agrícola (IEA) e o Instituto Biológico (IB), há um déficit de 746 cargos pesquisadores. Já na Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), faltam 152 cientistas.
O levantamento afirma que também há uma carência de profissionais de apoio nas três secretárias. Somando os cargos tanto de pesquisador como de funções de suporte, são mais de oito mil postos vagos no Estado.
A Semil afirmou em nota que está comprometida com o desenvolvimento científico e que em breve “serão apresentadas medidas que visam valorizar a carreira dentro de uma lógica de reconhecimento dos seus trabalhos e pensando em uma gestão mais eficiente”. Confira a nota na íntegra ao final do texto.
Já a SAA informou que abriu concurso público e irá contratar 37 pesquisadores científicos para vagas na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). Segundo o órgão, a homologação das vagas deve ocorrer ainda no primeiro semestre de 2025. Sobre a valorização das carreiras, diz que elaborou um projeto de lei de valorização salarial de todas as carreiras, que será enviado à Assembleia Legislativa em breve.
Concurso do Instituto Butantan
O concurso do Instituto Butantan abriu vagas para pesquisadores especializados nas áreas de Anticorpos Monoclonais para uso Médico, Biotecnologia, Desenvolvimento de Processo, Desenvolvimento de Plataformas de Vacinas de Nova Geração, Estudos Não Clínicos, Formulação de Produtos Biológicos, Museologia, Vacinologia, Vacinologia de Sistemas, Virologia e Toxinologia.
As inscrições seguem abertas até 23 de maio. Para solicitar isenção da taxa de inscrição no valor de R$ 122,17, o limite é o dia 23 de abril.
As provas objetivas do concurso serão aplicadas em 20 de julho de 2025. Entre 05 e 19 de janeiro de 2026, os aprovados realizarão uma prova oral. Confira o edital completo neste link.
Nota da Semil
A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) do Estado de São Paulo reconhece a importância estratégica da pesquisa científica para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental e está comprometida com a valorização dos pesquisadores e a modernização das estruturas.
A Semil destaca que criação do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), em 2021, representou um avanço na organização da pesquisa científica. A consequente modernização da gestão por meio da Plataforma CadGP permitiu um aumento de 12% no número de projetos cadastrados – de 331, em 2023, para 371, em 2024 –, demonstrando a eficiência da nova estrutura.
Quanto à questão salarial e cargos ainda não preenchidos, é importante considerar que as realidades orçamentárias são distintas, entretanto a Semil está trabalhando na revisão e melhorias da carreira do pesquisador. Em breve, serão apresentadas medidas que visam valorizar a carreira dentro de uma lógica de reconhecimento dos seus trabalhos e pensando em uma gestão mais eficiente. Essas mudanças serão essenciais para fortalecer a pesquisa científica garantindo que os pesquisadores tenham ainda mais condições para desenvolver seu trabalho com reconhecimento e apoio institucional.