Com bancos, Ibovespa tem maior alta desde maio/23 e se reaproxima dos 123 mil

Com a descompressão desde cedo nas curvas de juros dos Estados Unidos e do Brasil após leitura comportada sobre a inflação ao consumidor americano em dezembro, o Ibovespa se reaproximou dos 123 mil pontos, alcançando o maior nível de fechamento desde 17 de dezembro. Na máxima desta quarta, 15, o índice da B3 foi aos 122.987,84, em alta pouco acima de 3%. Ao fim, mostrava ganho de 2,81%, aos 122.650,20 pontos, saindo de mínima aos 119.302,94 quase correspondente ao nível de abertura. Em dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa, o giro subiu a R$ 70,3 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 3,19%, voltando ao positivo em 2025 (+1,97%).

Do meio para o fim da tarde, o Ibovespa sustentou renovações de máximas, que o colocaram no intradia no maior nível dede 18 de dezembro, enquanto o governo anunciava providências e iniciativas relacionadas ao Pix, que tem sido alvo de rumores em redes sociais de que viria a ser objeto de taxação em movimentações. A defesa do mecanismo de pagamentos deu força adicional aos papéis de grandes bancos, que desde mais cedo empurravam o Ibovespa para cima, e passaram a renovar máximas em paralelo ao ajuste do índice.

O advogado-Geral da União, Jorge Messias, afirmou nesta tarde que a AGU pedirá à Polícia Federal, ainda hoje, a abertura de inquérito para identificar autores que criaram e disseminaram fake news envolvendo o que seria a nova fiscalização do Pix. Segundo ele, foram identificados crimes contra a economia popular por causa da disseminação das notícias falsas. Por sua vez, o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, disse que a instituição revogará a nova fiscalização do mecanismo de pagamentos – o que deu impulso adicional às ações de bancos.

“Com essa revogação, mantém-se a gratuidade e o sigilo. Poderia ter uma trava nos depósitos, e isso seria ruim para os bancos, no meu ponto de vista”, diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença.

Ponderando catalisadores externos e domésticos, o Ibovespa ao fim mostrava seu melhor desempenho desde 5 de maio de 2023, então em alta de 2,91%. Foi também o terceiro ganho consecutivo do Ibovespa, o que não era visto desde o intervalo entre 9 e 11 de dezembro, há pouco mais de um mês. Além dos papéis de grandes bancos – que mostraram ganhos de até 4,34% (Itaú PN) no fechamento -, Vale ON, que oscilava ao negativo até o meio da tarde, firmou-se em alta de 1,45%, em encerramento também positivo para Petrobras (ON +1,31%, PN +1,28%).

Em Nova York, os ganhos desta quarta-feira – de retomada de entusiasmo dos investidores com relação à chance de o Fed seguir adiante com os cortes de juros na maior economia do mundo – ficaram entre 1,65% (Dow Jones) e 2,45% (Nasdaq). Na B3, apenas dois dos 87 componentes da carteira Ibovespa encerraram o dia no campo negativo: Marfrig (-1,76%) e Klabin (-0,51%). No lado oposto, destaque para Hapvida (+10,45%), Vamos (+9,44%) e Yduqs (+8,37%) no lado oposto.

Na agenda externa, o núcleo do índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos – que não inclui itens considerados voláteis, como os preços de alimentos e de energia – teve alta mensal de 0,2%, uma leitura favorável, observa o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung após a mesma métrica ter avançado 0,3% nos quatro meses anteriores. Assim, o núcleo do CPI, no acumulado em 12 meses, desacelerou a 3,2% em dezembro, comparado a 3,3% em novembro. “A inflação de dezembro veio dentro do esperado, sem grandes surpresas e, como o mercado temia uma aceleração maior dos preços, esse CPI traz um respiro neste início de ano.”

Em outro desdobramento nesta quarta-feira, o presidente do Federal Reserve (Fed) de Nova York, John Williams, vê diminuição gradual da inflação dos Estados Unidos em direção à meta de 2% nos próximos anos. Ao discursar em encontro econômico, ele disse esperar que o processo de desinflação progrida, embora observe também que levará tempo e que pode ser instável.

Nesse contexto, o fechamento da curva de juros, nos Estados Unidos como no Brasil, favorecia na B3, desde cedo, o desempenho de ações cíclicas, como as de varejo e construção civil, assim como o setor de bancos, observa Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, ainda que os dados de mercado de trabalho americano, divulgados na última sexta, indiquem nível de atividade “robusto”.

“Após um início de ano turbulento para as bolsas, será essencial que a inflação dê mais sinais de rumar em direção à meta de 2% para que o comitê de política monetária do Federal Reserve, o Fomc, retome os cortes, e o fluxo para o mercado de ativos de risco retorne”, aponta Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad, acrescentando que o mercado continua atento à “amplitude das políticas e tarifas do governo Trump, a partir da posse na semana que vem”.

Em janeiro até anteontem, conforme os dados mais recentes, os investidores estrangeiros já retiraram quase R$ 5 bilhões, em termos líquidos, da B3. No mesmo período de 2024, o fluxo estrangeiro estava positivo em quase R$ 2 bilhões.

“O mercado mostrou animação hoje, mas é cedo para falar em tendência. Houve um ajuste de baixa exagerado, com a deterioração expressiva das expectativas e na percepção geral de risco, produzindo efeito em especial para o dólar. Equipe econômica esteve sob pressão do mercado para tomar medidas que aliviem a trajetória fiscal, em momento ainda positivo na economia real, com atividade aquecida”, diz Felipe Moura, analista da Finacap.

“Bola continua na mão do governo para trazer gatilhos que animem os investidores, apesar de os fundamentos das empresas continuarem saudáveis quando se compara aos preços em que os ativos têm sido negociados, muito deteriorados. Falta ainda um gatilho macro e político, mais contundente, para que venha uma reprecificação da Bolsa e o enxugamento de prêmio de risco, no câmbio principalmente”, acrescenta. Nesta quarta-feira, o dólar à vista fechou em baixa de 0,35%, a R$ 6,0252.

Mais cedo, o desempenho mais acomodado do setor de serviços, divulgado pelo IBGE, já contribuía para que a curva de juros doméstica se acomodasse, aponta Gustavo Mendonça, sócio e especialista da Valor Investimentos.