Masanori Ninomyia demorou 12 anos para começar a falar. Diagnosticado aos quatro como uma criança do espectro autista, o garoto, o mais velho de três irmãos, assistia ao que acontecia ao redor à sua maneira, e desenhava e desenhava sem parar. Mickey, os personagens da TV Colosso, Power Rangers, Garfield… todos eles surgiram na vida de Nori antes que ele conseguisse se expressar em palavras.

O desenho foi ficando mais elaborado. Uma briga dos irmãos com ele resultou na imagem de um gato enorme pegando um ratinho. Tudo pontilhado. Depois, criou sua primeira super-heroína, a Kaleido Rider, e daí surgiu uma saga que já conta com seis heroínas, o homem foca e, como seu autor diz, está em “clima de processo”. Ideias não faltam para esse jovem que sofreu muito e ultrapassou barreiras, que sabe de suas limitações, mas não se cansa de aprender.

E é essa história de luta que acompanhamos em Nori e Eu, uma HQ assinada por Masanori, que acaba de completar 33 anos, e Sonia, sua mãe. O livro é dividido em duas partes. Na primeira, encontramos Sonia em 1968, quando ela e o pai de Masanori se conhecem. E então os 10 anos que viveu no Japão, a volta ao Brasil, a gravidez, o filho tão sonhado que não interagia com o mundo e ficava aflito longe da mãe, que era contemplativo e metódico. E tudo o que se seguiu para que Nori pudesse se desenvolver e conquistar alguma autonomia.

Na segunda parte, Nori se apresenta: sua história, suas preferências e referências, os momentos mais marcantes de sua trajetória. E o mais interessante: é ele quem ilustra tanto a sua parte quanto a da mãe.

A ideia do livro que a WMF Martins Fontes manda para as livrarias em uma semana foi do ilustrador Caeto. Ele é autor das graphic novels autobiográficas Memória de Elefante e Dez Anos Para o Fim do Mundo (Quadrinhos na Cia.) e da adaptação para HQ de Ivan Ilitch, de Liev Tolstoi, pela Peirópolis – e professor de desenho de Masanori há cinco anos.

Dois anos atrás, Sonia comentou com Caeto como seu filho estava indo bem e melhorando no desenho. Era um elogio, mas isso não diminuía sua frustração. “Masanori é um cara que já tem o trabalho dele, o Kaleido Rider, já faz o gibi dele, e não gostava da minha intromissão. É um artista e fazia do jeito dele. Respeitei isso, mas era como se eu não estivesse dando aula. Eu me sentia em falta com o Masanori”, conta. Ao ouvir sobre o processo de amadurecimento de seu aluno e das histórias por trás disso, sugeriu um projeto que envolvesse os três.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.