07/03/2023 - 16:13
Por Nayara Figueiredo e Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – O plantio de milho segunda safra do Paraná atingiu 37% da área total prevista para o Estado, informou o Departamento de Economia Rural (Deral) nesta terça-feira, mantendo atraso na comparação com anos anteriores, o que aumenta riscos para a produção e tem levado produtores a avaliar as possibilidades de migrar ou não para o trigo.
Segundo especialistas, essa migração é factível até certo ponto, porque muitos agricultores preferem arriscar seguir com o milho, já que veem este cereal como um produto mais fácil de comercializar do que o trigo. Há ainda questões burocráticas relacionadas ao financiamento que limitam uma troca de lavoura.
Em relação à semana anterior, houve um avanço de 11 pontos percentuais no plantio de milho, mas ainda assim o total cultivado fica atrás do registrado na mesma época em 2022 (69%), 2021 (43%) e 2020 (72%), segundo dados do Deral.
Em 2021, quando a safra atrasou também, o milho do Paraná sofreu o efeitos devastadores de geadas.
Analistas ouvidos pela Reuters alertam que uma boa parte da segunda safra de milho do Paraná será semeada fora do período ideal, após um alongamento de ciclo e problemas climáticos na soja no verão. Em diversas regiões do Estado, a melhor “janela” para plantio do cereal terminou em 28 de fevereiro, e em outras segue somente até 10 de março, conforme o zoneamento agrícola.
“O trigo deve ter um crescimento de área especialmente por conta disso, como cultura de substituição. Em termos de preço, está parecido com o ano passado, mas o trigo está sendo favorecido por essa questão do atraso no milho”, disse o analista do Deral Carlos Hugo Godinho.
Ele destacou que, por se tratar de uma cultura de inverno, o período ideal para plantio de trigo fica entre abril e julho, a depender da região paranaense.
O gerente sênior de risco na área de grãos da HedgePoint Global Markets, Roberto Sandoli, acrescentou que há grande probabilidade que a substituição entre os dois cereais aconteça, mas até certo nível.
“Porque o produtor pode tentar segurar ao máximo para tentar plantar o milho, que é mais líquido (no mercado)”, disse ele.
Neste sentido, a assessora técnica da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Sistema Faep/Senar-PR) Ana Paula Kowalski ressaltou que o interesse comercial do agricultor é maior pelo milho porque a demanda é mais ampla para produção de ração animal e exportação do cereal.
Entretanto, os produtores que não conseguirem plantar o milho deverão migrar para o trigo, principalmente, porque quando o cereal é cultivado fora do período de zoneamento agrícola, o agricultor perde o acesso ao seguro rural.
“As regiões mais críticas neste momento são sudoeste e oeste do Paraná. No norte e noroeste do Estado também deve haver o fechamento da janela de plantio”, disse ela sobre as áreas mais atrasadas na semeadura.
“E é possível plantar trigo nessas áreas sim”, completou.
Kowalski disse, inclusive, que alguns produtores já estão com intenções claras de desistir do milho nesta segunda safra, mas os que fizeram financiamentos para as lavouras do cereal também estão esbarrando em dificuldades bancárias para migrar para o trigo.
“O prazo para desistência de financimentos tomados para o milho e contratação de crédito rural para o trigo é de 30 dias e já venceu, mas não pela culpa do produtor”, afirmou.
Isso porque, segundo ela, o produtor quando desiste do cultivo precisa pagar a taxa de juros do período que ficou com o crédito do banco. Além disso, quem já adquiriu os insumos, se não conseguir aproveitar para o trigo, também tem que devolver o valor dos produtos para a instituição financeira.
“Estamos atuando como federação para buscar uma solução com o Banco Central.”
PRIMEIRA SAFRA
Já a colheita da safra de soja atingiu 30% da área total, avanço de 13 pontos na comparação com a semana anterior. Em 2022, o Paraná já tinha 54% da soja colhida, conforme dados do Deral.
Para o milho primeira safra, a colheita chegou a 34% das áreas, contra 26% na semana passada. Um ano antes, a colheita estava em 64%.
(Por Roberto Samora e Nayara Figueiredo)