Quando entrar em campo nesta segunda-feira, às 19h15, no Castelão, para o jogo de ida da final da Série D contra o Treze, o Ferroviário começará a tentar subir mais um degrau de uma redenção iniciada em 2016, quando superou a maior tragédia da sua história ao voltar à elite estadual. Agora, então, tem a chance de se tornar o primeiro time de Fortaleza a conquistar um título nacional.

Até algum tempo atrás, a década de 2010 era considerada a pior da história do Ferroviário, que já foi nove vezes campeão estadual, a última delas em 1995. Afinal, foi rebaixado para a segunda divisão cearense em 2014 e praticamente sumiu do cenário nacional e regional. Mas isso começou a se alterar exatamente nesse momento mais complicado, com o acesso no Ceará em 2016.

A partir daí, o Ferroviário passou por uma série de modificações. Nos últimos anos, houve mudanças na gestão do clube, com a ascensão de uma nova diretoria, e o maior investimento em estrutura. E os resultados começaram a aparecer já em 2017, com o vice-campeonato estadual.

Essa campanha, aliás, rendeu ao Ferroviário a participação em três competições neste ano: Copa do Nordeste, Copa do Brasil e Série D. E, se o desempenho no torneio regional foi pífio, com um ponto somado em seis jogos, as outras duas já entraram para a história do clube e estão diretamente relacionadas.

Ao avançar até a quarta fase da Copa do Brasil, eliminando os tradicionais Vila Nova e Sport e só parando no Atlético-MG, o Ferroviário recebeu uma premiação de R$ 4,3 milhões da CBF. O valor foi bem aproveitado pelo clube, que conseguiu colocar as contas em dia e bancar a sua participação na Série D. “Com esse recurso, quitamos as dívidas trabalhistas e ainda investimos na estrutura”, explica o vice-presidente do Ferroviário, Newton Pereira Filho.

O dinheiro, inclusive, pode ser visto como um “doping financeiro”, pois o Ferroviário, que possui uma folha salarial de cerca de R$ 180 mil, foi o único clube da quarta divisão nacional a ir tão longe na Copa do Brasil. “Representou 60% de possibilidade de conseguir o acesso. Ter o dinheiro não é tudo, mas ajuda”, afirmou Jurandir Junior, executivo de futebol do Ferroviário, que assumiu o cargo para a disputa da Série D, após passar por Fortaleza, Ceará e Botafogo-PB, entre outros clubes.

A gestão do Ferroviário, porém, ainda repete práticas usuais e questionáveis de outros clubes brasileiros, tanto que o time já está em seu quarto treinador em 2018, sendo que o anterior, o ex-atacante palmeirense Maurílio, foi demitido mesmo sem ter perdido nenhum jogo na fase de grupos da Série D. Só que os três empates em casa e a irritação da torcida pesaram para a troca. “Havia uma predisposição contra o Maurílio. Com 15 minutos de jogo os torcedores pediam a saída dele”, justificou Jurandir Filho.

Chegou Marcelo Vilar, com passagem pelo Palmeiras no início dos anos 2000 e histórico de vários acessos nacionais, com clubes como Treze, Barueri e Botafogo-PB, onde trabalhou com o atual executivo de futebol do Ferroviário. “Conseguimos o primeiro objetivo, que era o acesso. Agora estamos atrás do outro. E não custa sonhar”, disse o treinador.

A diretoria também tirou o time do estádio Presidente Vargas e o levou para o Castelão, onde o Ferroviário tem mandado os seus jogos desde a segunda fase da Série D, ainda que só utilizando um setor das arquibancadas. “Avaliamos as condições e vimos que o gramado do Castelão possibilita o desenvolvimento do nosso jogo, de técnica e velocidade”, explica Newton Júnior.

Só que o time já começou a perder destaques da campanha, como Juninho Quixadá, que se transferiu ao Ceará antes do jogo de volta das semifinais com o São José-RS. Mas segue com Edson Cariús, o artilheiro da quarta divisão nacional com dez gols e que pode conduzi-lo ao título no próximo sábado no Estádio Amigão, em Campina Grande, contra o Treze. Foi lá que o time conseguiu o acesso para a Série C, diante do Campinense, e poderá faturar um título que parecia impossível há quatro anos. “É o ressurgimento do Ferroviário”, celebra Newton Júnior – e também a torcida do clube.