A ação começa na rua. Dentro do teatro, a plateia pode ser o palco, o foyer pode ser a plateia. É ópera, mas com o desafio de repensar a ópera. É música, mas com o objetivo muito claro de apontar para o novo – e para o prazer da descoberta.

Assim Ritos de Perpassagem, de Flo Menezes, sobe nesta sexta-feira, 27, ao palco do Theatro São Pedro. O compositor é sinônimo de invenção na cena musical brasileira. E, ao ser convidado para escrever uma ópera, não fugiu à regra de seu trabalho, pronto para implodir as convenções do gênero, construídas ao longo de 400 anos de história: esqueçam árias, duetos, amores frustrados, cenas de vingança ou de loucura.

“A primeira coisa que me perguntei foi: o que significa compor uma ópera hoje? E se você aceita o convite, então aceita o desafio de fazê-lo com um sentido inovador, buscando o novo, que é o norte da arte. A ciência trabalha com a descoberta. Mas a arte, não, ela trabalha com a invenção. A gente inventa, para descobrir depois”, explica Menezes.

Ópera é a mistura de todas as artes. Mas Menezes começou seu trabalho tentando entender como se dá a relação entre elas. “Encontre cinco elementos fundamentais: indumentária, iluminação, cenografia, texto e música. Mas com uma característica especial. As únicas coisas realmente necessárias são a música e o texto. Três quintos do espetáculo são arbitrários.”

Menezes quer dizer que, quando uma ópera do chamado grande repertório sobe ao palco, é comum que texto e música, sempre os mesmos, ganhem nova roupagem por meio de produções que ambientam a história em novos cenários ou contextos históricos.

“Três quintos, portanto, são arbitrários, mas ao mesmo tempo responsáveis muitas vezes por fazer a ópera se renovar. De qualquer forma, um tipo de espetáculo em que mais da metade de seus componentes é arbitrária, variável é um tipo de espetáculo problemático em sua essência. O que pensei em fazer, portanto, foi em amarrar da maneira possível todos esses elementos. Há liberdade de criação, claro, mas penso os elementos visuais como necessários e já os indico na partitura”, afirma o compositor.

Chamar a ópera de uma “arte problemática” já é suficiente para deixar muito amante dela de cabelo em pé. Mas calma. A história do gênero sempre ganhou com propostas de ruptura. E a ideia de Menezes é essa mesmo, contando com a ajuda de Pitágoras como personagem central, em diálogo com Freud, Fernando Pessoa, Marx, Augusto de Campos – e séculos de filosofia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.