Conhecidamente marcado por um passado escravocrata e uma política oficial de apartheid racial, os Estados Unidos ao longo de sua história vem se esforçando na busca de valores universais de igualdade e dignidade humana aos negros. A nação tem trabalhado intensa e exaustivamente para substituir a ideologia que tende a separar seus cidadãos. Por isso, surpreendentemente, apesar da resistência e mesmo o alto grau de hostilidade e violência social, o racismo estrutural norte-americano consegue realizar proezas, diferentemente da chamada democracia racial brasileira.

Se de um lado há o caso de assassinato de George Floyd como manifestação viva da sua expressividade, existem outros exemplos que são contrários a essa violência. São eles: a vice-presidente Kamalla Harris, o Secretário de Defesa Lloyd Austin, a embaixadora da ONU, Linda Thomas Greenfield, Marcia Fudge, ministra de moradia, o ex-presidente Barack Obama, os ex Secretários de Estado Condoleezza Rice e Colin Powell, todos negros. É representação do compromisso da sociedade em combater o racismo. Esses casos causam mudanças que garantem mais igualdade e diversidade dentro dos órgãos de poder. Agora, Ketanji Brown Jackson se junta ao também negro Clarence Thomas, nomeado por George Bush, em 1991. Ela se torna assim, a terceira pessoa negra na história da Suprema Corte. Tradição inaugurada por Thurgood Marshall, primeiro negro a compor o Tribunal, ele foi designado para o posto pelo presidente Lyndon Johnson, no ano de 1967. Considerando que os negros representam 13% da população, a constatação é que nos Estados Unidos, do racismo aberto e intensa exclusão racial, é possível avançar quando há compromisso e determinação.

No Brasil, de 54% de negros, o Conselho Nacional de Justiça indica que o percentual dessa população na magistratura é de apenas 7%

No Brasil, de 54% de negros, o Censo de 2021 do Conselho Nacional de Justiça indica que o percentual dessa população na magistratura é de apenas 7%, em média. Não surpreende, por tanto, que exista tribunal que não possua juiz ou juíza negro e que 30% dos magistrados omitem ou evitam declarar sua cor ou raça. A consequência, nenhum dos atuais onze ministros do Supremo Tribunal Federal é negro. Junto com o desafio, estamos diante de uma janela de oportunidades para corrigir o curso histórico do nosso judiciário. E, em homenagem a justiça, igualdade e a diversidade, uma mulher negra e ou um homem negro tem de ser nomeados para o STF. Nos Estados Unidos, Joe Biden se convenceu do seu papel primordial para dar continuidade e ampliação do fortalecimento da presença negra nos espaços de prestigio e de poder. Suas nomeações não foram só para inglês ver. Agora, com a palavra os candidatos Luís Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro e a tal da terceira via, quando houver.