Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) – Em um momento em que a taxa de ocupação de leitos de UTI em São Paulo é de 85,3% e no dia em que foram registradas 791 mortes pela Covid-19, o governo do Estado de São Paulo anunciou nesta sexta-feira uma nova flexibilização da quarentena, que permitirá já no próximo domingo a reabertura do comércio e a volta dos cultos religiosos e, no final de semana seguinte, a volta à atividade de restaurantes, salões de beleza e academias.

O anúncio foi feito pelo vice-governador do Estado, Rodrigo Garcia (DEM), durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. A nova flexibilização, que está sendo chamada pelo governo paulista de “fase de transição”, é “consequência da queda de internação, da queda dos números da pandemia aqui no Estado de São Paulo”.

“A ideia da criação dessa fase de transição é que a gente possa dar passos seguros sem o risco de retroceder”, disse Garcia em entrevista coletiva.

Pelas regras desta nova fase, que limita a 25% a ocupação dos estabelecimentos, o comércio, incluindo shopping centers, poderá reabrir no domingo e operar entre 11h e 19h, enquanto os cultos religiosos poderão acontecer com restrições.

Já a partir do dia 24 de abril, restaurantes, bares, salões de beleza e barbearias, atividades culturais poderão funcionar também das 11h às 19h. As academias poderão operar das 7h às 11h e das 15h às 19h.

Na chamada fase de transição, fica mantido a restrição de circulação todos os dias das 20h às 5h.

Também presente na coletiva, o coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, que assessora o governo paulista, o médico Paulo Menezes, lembrou que, diante de uma rápida aceleração no número de casos e internações entre meados de fevereiro e inicio de março, o Estado adotou restrições mais duras que, segundo ele, deram resultado e levaram a uma queda no número de novas internações no início deste mês.

“Essa queda persiste e hoje nós temos uma redução diária de pacientes internados de aproximadamente 1,4%, o que representa menos 140 pacientes por dia em UTI, de forma que conseguimos o progresso”, afirmou.

“Em relação aos óbitos, nós vínhamos infelizmente assistindo um crescente número de óbitos, mas já há agora uma indicação de estabilização no número de óbitos com perspectiva de queda progressiva daqui para frente, como nós tínhamos previsto”, afirmou.

De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado, São Paulo registrou 1.060 mortes por Covis-19 na quinta-feira, 1.095 na quarta, 1.282 na terça, 181 na segunda e 510 no domingo. Algumas mortes que acontecem aos fins de semana acabam não sendo registradas na data em que ocorrem, o que normalmente impacta os dados de terça-feira.

“VIVEMOS NO MUNDO REAL”

Apesar da nova flexibilização, Menezes reconheceu que a transmissão do coronavírus no Estado é alta, assim como o número de novos casos, de internações e de mortes provocadas pela doença.

Menezes disse ainda que a decisão de flexibilizar a quarentena levou em conta que, segundo ele, a sociedade tem outras necessidades e admitiu que “no mundo ideal” as restrições seriam mais duras.

“O Centro de Contingência entende, vamos chamar no mundo ideal, seria sempre bom o maior nível de restrição possível e de redução de mobilidade das pessoas. Todos nós sabemos que, se fosse possível idealmente, nos trancarmos dentro de casa por três a quatro semanas, nós teríamos um cenário de praticamente a interrupção da transmissão viral”, afirmou Menezes.

“Mas nós vivemos no mundo real, o Centro de Contingência compreende isso e entende que essas medidas apontadas pelo governo agora permitem que alguns setores e parte da população que estão sendo extremamente afetados pela pandemia possam ter alguma chance de conseguir caminhar nas próximas semanas, mantendo um alto nível de isolamento.”

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