Aos 14 anos, Fabrício Nascimento ajudava a família a plantar feijão, milho, melancia e abóbora em Nova União, no interior da Bahia. Também trabalhava com o pai como servente de pedreiro, carregando blocos e cimento. Hoje, aos 17, ele é o novo Gabriel Jesus do Palmeiras.

No Campeonato Paulista Sub-17, torneio conquistado pelo clube, o atacante quase igualou o recorde do hoje atacante do Manchester City e da seleção brasileira. Faltou um gol. Fabrício fez 36 em 22 jogos. Esses números fazem com que o menino de 17 anos seja considerado uma das grandes promessas da base.

A comparação com a principal revelação do campeão brasileiro nos últimos anos, mas que passou em branco na Copa do Mundo da Rússia, não o incomoda. É o contrário. “Algumas pessoas falam que tenho o mesmo estilo de jogo. Concordo. Gosto de cair pelas beiradas do campo e finalizar. Ele também faz isso”.

Estilo de jogo e números parecidos, histórias de vida díspares. Fabrício nasceu em Ibotirama, cidade de 25 mil habitantes formada a partir das fazendas de criação de gado do período colonial na Bahia. Ele conta que era difícil arrumar trabalho lá.

Poucos locais na cidade têm rede de água e esgoto. “Muitas plantações morriam por falta de chuva”, disse o artilheiro palmeirense, que tem quatro irmãos – um é só por parte de pai.

A bola sempre foi seu sonho. Depois de incontáveis peladas nos campinhos de terra batida, ele se destacou em um campeonato em Bom Jesus da Lapa, terra de Hernane Brocador, hoje atacante do Sport. Seu time, o Flamengo de Guanambi, parou nas quartas de final, mas ele chamou a atenção. Resolveu arriscar um teste no Palmeiras. Foram 12 horas de ônibus até a capital, Salvador, e mais o voo até São Paulo para a peneira (um empresário pagou a passagem e tudo mais). Fabrício foi aprovado após duas semanas de treinos. No ano passado, quando o time foi vice-campeão paulista, fez 20 gols em 27 jogos.

Hoje ele mora no alojamento do Palmeiras, na Água Branca (zona oeste de São Paulo). São 30 atletas ao todo. Treina de manhã, folga à tarde e estuda à noite no segundo ano do Ensino Médio. Aguarda o resultado para saber se passou de ano. Quer fazer faculdade de Medicina “mais pra frente”. Sua presença na Copa São Paulo de Futebol Júnior ainda não está confirmada. Afinal, o torneio é sub-20 e ele tem apenas 17 anos.

A concorrência é grande. A história de Fabrício exemplifica o sucesso das categorias de base do Palmeiras. Em 2017, o time havia conquistado 17 títulos; neste ano, foram 22. O clube chegou às finais do Campeonato Paulista com todas as categorias pelo segundo ano seguido. Outro recorde batido foi o de convocações às seleções de base. Foram 30, entre eles Fabrício.