Jogador mais novo a vestir a camisa do Barcelona desde 1941, mais jovem a marcar um gol pelo clube no Campeonato Espanhol, disputado por três seleções e com multa rescisória de 100 milhões de euros (R$ 449 milhões). Com apenas 16 anos e cinco jogos oficiais, Ansu Fati passou de um adolescente desconhecido para uma das grandes apostas do futebol mundial – e que vem quebrando vários recordes em um dos maiores clubes do mundo.

Quando a temporada europeia começou em julho, o jovem nascido na Guiné-Bissau sequer fazia parte do elenco principal do Barcelona. Ele acabou sendo chamado para compor o elenco do técnico Ernesto Valverde por uma urgência. Com Lionel Messi, Luis Suárez e Dembelé lesionados, o prodígio da conceituada La Masia foi solicitado ao time sub-19 para integrar o banco de reservas contra o Betis. Ao jogar 16 minutos durante a goleada por 5 a 2, se tornou o segundo atleta mais jovem a defender as cores da equipe catalã, com 16 anos e 304 dias, só superado por Vicente Martínez, em feito conseguido em 1941.

Na partida seguinte, o primeiro gol e mais um recorde. Quando balançou as redes contra o Osasuna, no empate por 2 a 2, Fati passou a ser o mais novo a marcar pelo Barcelona no Campeonato Espanhol.

Mas a partida que mais chamou a atenção foi contra o Valencia, que terminou 5 a 2, em jogo válido pela quarta rodada do Espanhol. Mais confiante e confortável com a posição de titular, o garoto precisou de apenas seis minutos para marcar um gol e dar uma assistência para De Jong, depois de linda jogada se livrando da marcação. Poucos minutos depois, quase fez outro e levou os torcedores ao delírio.

“Não é normal que na primeira vez que toque na bola marque um gol, na segunda dê uma assistência e na terceira quase marque de novo no ângulo. Queremos que ele se conheça, vá ganhando ritmo e dê cada vez mais à equipe”, disse Valverde depois do confronto.

Mesmo ciente das comparações da ascensão de sua “joia” com o surgimento de Lionel Messi, o treinador garante que todos no clube vão trabalhar para protegê-lo. “Não me importo que eles comparem o início do Ansu Fati com o início do Messi. Nós sabemos que o seu futebol será grande. É nossa função proteger o jogador”.

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A partida foi tão especial que até rendeu comentários de Messi nas redes sociais. “Grande partida de todos, três primeiros pontos na LaLiga (Campeonato Espanhol) e muito feliz por vez os jovens da casa realizando seus sonhos de chegarem ao time principal e marcar em uma partida oficial no Camp Nou”, escreveu o argentino em imagem que aparece dando um abraço na última grande revelação do clube. O melhor do mundo por cinco vezes tem uma relação especial com o jovem, que tem como empresário seu irmão, Rodrigo Messi.

O último feito de precocidade veio na Liga dos Campeões da Europa. Ao entrar em campo no empate por 0 a 0 contra o Borussia Dortmund, Fati se tornou o mais jovem (16 anos e 322 dias) a jogar pelo Barcelona na era moderna da principal competição europeia de clubes (1992).

Antes de todo esse reconhecimento no time profissional, um fato curioso marcou o jovem atacante e Víctor Valdés, treinador do sub-19 da equipe catalã. O ex-goleiro disse que precisou comprar novas chuteiras para Fati depois de perceber seu desconforto em campo. “Eu disse a ele para me mostrar suas chuteiras e elas estavam um completo desastre, estavam causando dores nele. Ninguém imaginava que as chuteiras poderiam ser a causa, mas eu achava que sim. Nós fomos comprar novas chuteiras para ele”, contou em conversa com a imprensa.

DISPUTADO POR GIGANTES – A família Fati chegou à Espanha em 2008. Logo, seu pai Bori, um jogador semiprofissional no país africano, se tornou motorista do prefeito na província de Herrera, em Sevilha. O primeiro contato com o futebol na Europa veio quando Braima, irmão mais velho da clã, passou a fazer parte das categorias de base do Sevilla. A equipe andaluz chegou a contar com Fati em suas categorias inferiores, mas seu crescimento acabou despertando o interesse dos gigantes Real Madrid e Barcelona, em 2010.

À rádio Cadena Cope, Bori Fati revelou que por muito pouco não acertou com o Real Madrid quando estava de saída do Sevilla. “Nós estávamos em Sevilla, e o Real Madrid me oferecia melhores condições do que o Barcelona. Mas elegemos o Barcelona porque vieram até a minha casa com contrato e me convenceram. Albert Puig (ex-diretor da base do Barcelona e hoje no New York City) me disse que o meu filho tinha que fechar com o Barcelona. O Sevilla também teve interesse, mas quando ele tinha nove anos esteve no clube e ficou um ano sem atuar”.

O Barcelona também levou no pacote Braima, que está emprestado ao CD Calahorra, e o irmão mais jovem do trio: Miguel Fati. Depois de perder revelações como Eric García (Manchester City), Jordi Maboula (Monaco) e Mateu Morey (Bayern de Munique), o Barcelona se apressou para firmar um contrato vantajoso com seu prodígio e, em julho, assinou um acordo até 2022, com multa rescisória de 100 milhões de euros (R$ 449 milhões).

A ascensão de Ansu Fati também despertou o interesse de três seleções. E quem venceu a corrida foi a Espanha. O jogador também poderia defender Guiné-Bissau, onde nasceu, ou Portugal, o direito de cidadania é dado a todos nascidos em sua ex-colônia.

Após pedido de urgência na naturalização feito pela Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF, na sigla em espanhol), o Conselho de Ministros da Espanha autorizou na última sexta-feira a concessão do passaporte ao jovem jogador. Com isso, ele está à disposição do técnico Roberto Moreno para a disputa do Mundial Sub-17, que será realizado no Brasil, entre os dias 26 de outubro e 17 de novembro. A Espanha está no Grupo E ao lado de Argentina, Tajiquistão e Camarões.


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