É difícil e solitário estar à frente de uma ação social de educação num país como o Brasil. Jornalistas poderiam ajudar muito. Para isso, bastaria dar um mínimo de atenção – e não exaltar o viral em detrimento do real."Você gostaria que as desigualdades no Brasil diminuíssem?" "Você acredita no poder da educação como instrumento de transformação social?"
É muito provável que praticamente todos os profissionais da comunicação responderiam absolutos "sim" para as perguntas acima. Não acho que estariam mentindo, mas me pergunto o quanto verdadeiramente almejam que mudanças ocorram, ou, pelo menos, se estão cientes do poder e da responsabilidade que têm, estando por trás de grandes veículos, para que tais mudanças sejam reais e não apenas sonhos.
Dedico minha vida, quase que exclusivamente, há nove anos para o Salvaguarda, uma ação social de educação que começou do zero, hoje atende jovens do país todo e já aprovou mais de 3 mil no ensino superior.
Nesta coluna, quero discorrer especificamente sobre minha relação, enquanto gestor social, com os veículos de comunicação.
O viral e o sensacionalista em detrimento do real
Sempre acreditei no poder do jornalismo de nos ajudar. Meu raciocínio é simples: os veículos têm o poder de mostrar nosso trabalho para novas pessoas, nos possibilitando receber ajuda e também ajudar ainda mais jovens.
O saldo geral no sentido de pautas aprovadas, de 2017 até hoje, é positivo, e não posso mentir, mas é difícil colocar em palavras o quão difícil foi cada aprovação.
Antes, acreditei que eu não tinha respostas ou atenção por estar no início do projeto e ainda sem resultados ou solidez. Agora, entendo que é uma dificuldade inerente às ações sociais.
Sinto que posso escrever que há vagas gratuitas, com um suporte completo e incrível, para 1 milhão de estudantes, e que muito provavelmente terei a mesma taxa de respostas de quando o projeto estava no primeiro ano. Me sinto, confesso, um mendigo pedindo esmola.
Nesse contexto, fico incrivelmente magoado quando vejo pautas envolvendo educação, mas no recorte de pessoas que por alguma razão viralizaram na internet, ou aquele bom e velho sensacionalismo expondo perfis que simplesmente não inspiram, mas causam comparações irrealistas.
Enxergar o humano por trás do personagem
Já fui personagem em pauta dos maiores programas do Brasil. Assim como também fui personagem em grandes eventos de educação, daqueles do tipo organizados por grandes fundações. Sabem, né?
Durante cada pauta ou evento, nossa, me tratavam igual a um herói, e parecia que verdadeiramente acreditavam em mim e em meu trabalho. Elogiavam demais e até se diziam emocionados. Poxa, isso brilhava meus olhos. Me trazia esperança de que havia encontrado quem iria nos ajudar quando possível. Bom, não é bem assim. No ano seguinte eu escrevia, pedindo ajuda com uma nova divulgação ou, pelo menos, com alguma atenção. O que recebia? ou um belo vácuo ou uma resposta ríspida e seca.
Sei que estão na correria e posso apenas imaginar o quanto têm de trabalho para lidar, mas, poxa, gostaria que soubessem que verdadeiramente entram em nossas vidas. Gostaria que soubessem o quanto é difícil e solitário estar à frente de uma ação social de educação em um país como o Brasil. Gostaria que soubessem o quanto podem ajudar ações como o Salvaguarda a seguir resistindo, para ajudar ainda mais jovens, e para isso basta darem uma mínima atenção. Gostaria que soubessem que podem ser agentes ativos na construção do Brasil melhor que tanto dizem almejar.
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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.