03/12/2019 - 16:44
Chegamos ao fim do ano com muita gente dizendo que o Flamengo conquistou o Campeonato Brasileiro e a Copa Libertadores porque recebe mais dinheiro da TV. Mas por que, até o ano passado, quando tivemos dois times paulistas – Corinthians e Palmeiras – se alternando na liderança do Brasileirão, isso não foi comentado? Nem quando o Grêmio ganhou a Libertadores, ou o Cruzeiro foi bicampeão da Copa do Brasil?
Vamos a alguns números? De 2006 a 2008, Corinthians, Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Vasco ganhavam os mesmos R$ 21 milhões da TV. Valor que subiu para R$ 36 milhões até 2011. Naquele ano, o Clube dos 13 resolveu não renovar o contrato que mantinha com a TV Globo e abriu licitação. E a emissora, em vez de negociar um pacote, foi fechando acordos com os clubes individualmente, com interesses bilaterais. Corinthians e Flamengo passaram a receber R$ 110 milhões, o São Paulo, R$ 80 milhões, e Palmeiras e Vasco, R$ 70 milhões. E até 2018, respectivamente, R$ 170, R$ 110 e R$ 100 milhões.
Para 2019, tudo mudou, com a Globo tendo os direitos da TV aberta e do pay-per-view e dividindo com a Turner, na TV fechada. Do valor total da TV aberta, 40% foram divididos igualmente; 30% de acordo com a audiência; e 30% pela classificação no Brasileirão. O que causa impacto maior nas receitas é a divisão do PPV, que passou a ser de acordo com a torcida que cada equipe tem no país. O Flamengo recebe (em milhões), R$ 120; Corinthians, R$ 110; e Palmeiras, R$ 94.
O que não se leva em consideração são os outros valores que um clube fatura. E para isso, recorro a um estudo divulgado ano passado pela Área de Crédito do Itaú BBA. E nele a gente começa a ver que essa conversa de “espanholização” não cola por aqui. Ou, ao menos, não justifica o que se tem dito atualmente sobre os resultados rubro-negros.
Vamos comparar com alguns campeonatos europeus? De 2014 a 2019, a Alemanha e a Itália tiveram apenas um campeão nacional; França e Portugal tiveram dois; Espanha e Inglaterra, três; e o Brasil teve quatro. Desses quatro, Cruzeiro e Corinthians têm, na cota de TV, mais de 50% de seu faturamento anual; o Flamengo tem 41%; e o Palmeiras, apenas 28%. O que demonstra que esses dois últimos clubes têm boa distribuição na geração de receitas. Tais como receita de bilheteria, patrocínios, planos de sócio-torcedor e venda de jogadores, entre outros.
O estudo apresenta diversos outros números, comprovando que uma administração bem feita, com redução de custos operacionais e com pessoal e das dívidas, promove equilíbrio e permite a um clube investir em uma equipe forte e mais competitiva. Clubes que enxergam até onde podem ir e que traçam metas alcançáveis, sem extrapolar nas despesas, e que planejam a longo prazo estão mais próximas das conquistas.
O dinheiro para investir, portanto, não é o que entra, mas sim o que sobra. E cuidar bem dele é a principal tarefa a ser cumprida. Se olharmos apenas a tabela do Brasileirão, veremos que nesse momento, depois do Flamengo, está o Santos, que não aparece entre os que ganham mais dinheiro; o Corinthians é apenas o oitavo colocado; e o Athletico Paranaense fura a fila dos mais ricos. Jogar o motivo de uma conquista unicamente nas verbas da TV – para manter a aparência de uma coluna econômica – é pobre de argumentação.