O calendário do futebol mundial passa por reformulações em razão da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Na Holanda, o campeonato nacional foi encerrado sem um campeão decretado. Nas principais ligas europeias, não há definição sobre o que vai acontecer, assim como aqui no Brasil. No próximo fim de semana deveria começar o Brasileirão, mas agora sequer sabemos como ele será disputado, com a totalidade ou não de suas 38 rodadas por pontos corridos.

Essa incerteza, no entanto, já nos dá uma certeza, confirmada pelo Transfermarkt (site especializado na avaliação de jogadores de futebol). O valor de mercado dos jogadores que atuam no Brasil caiu, alguns mais de 20%. E isso vai impactar diretamente no resultado financeiro dos clubes, já que muitos contam com esses recursos para chegarem ao fim do ano cumprindo suas metas econômicas.

Soccer Football - Copa Libertadores - Final - Flamengo v River Plate - Monumental Stadium, Lima, Peru - November 23, 2019  Flamengo's Gerson in action with River Plate's Nicolas De La Cruz  REUTERS/Pilar Olivares

Meia Gérson sofreu desvalorização de 21,4% em valor de mercado desde início de pandemia – Reuters/PILAR OLIVARES

Conversei com o diretor-executivo da EY, Pedro Daniel, e ele afirma que 15% das receitas dos clubes europeus vêm do Matchday (valor da bilheteria mais o consumo de torcedores em dia de jogos). E com portões fechados, e eventuais partidas canceladas, todos terão menos dinheiro para investir. O analista ainda aposta em queda de receita com publicidade e com as TVs. Para reforçar essa análise, o consultor de finanças do esporte César Grafieti arrisca dizer que a próxima janela, “pelo fato de a crise atingir todo o segmento futebol e não apenas um ou outro país, será das mais mornas dos últimos anos”.

As mais importantes janelas europeias de transferência abrem em 1º de julho, ou seja, daqui a pouco mais de 60 dias. No ano passado, esse mesmo período de transferência, que vai até 31 de agosto, foi dos mais aquecidos. Nos seis principais campeonatos europeus, o volume movimentado, segundo o Transfermarkt, foi: Inglaterra, 2,08 bilhões de euros; Espanha, 1,99 bilhão de euros; Itália, 1,53 bilhão de euros; Alemanha, 1,1 bilhão de euros; França, 1,07 bilhão de euros; Portugal, 469 milhões de euros. No total, pouco mais de 8,16 bilhões de euros.

O Brasil movimentou, entre entradas e saídas, quase 170 milhões de euros. Rodrygo, vendido pelo Santos ao Real Madrid, foi o maior negócio realizado: os espanhóis pagaram 45 milhões de euros. Dos que voltaram, Gérson, comprado pelo Flamengo, custou 11,8 milhões de euros. Valores que não serão repetidos este ano. O meia rubro-negro, por exemplo, que chegou a valer 14 milhões de euros, sofreu uma desvalorização de 21,4% e hoje está avaliado em 11 milhões de euros. O líder do ranking no Brasil é Everton, do Grêmio. Em maio, ele chegou ao valor 40 milhões de euros, mas, de acordo com a atualização do site do último dia 8 de abril, o atacante gremista custaria 28 milhões de euros.

Everton, o Cebolinha, disputa a Copa América de 2019.

Everton Cebolinha continua sendo o jogador em atividade no Brasil com mais valor de mercado – Lucas Figueiredo/CBF/Direitos Reservados

É evidente que haverá venda de jogadores para o exterior. E, infelizmente, por preços abaixo do que dirigentes e, até mesmo, torcedores estimavam. Será necessário para garantir fluxo de caixa, mas também promoverá um prejuízo técnico importante no Brasileirão. A questão é saber se haverá clubes interessados e, mais ainda, se algum dos nossos clubes terá como competir e aguardar pela volta da normalidade, quem sabe na janela do fim de ano.

Mas sempre haverá outra dúvida: será que os valores de agora são os reais? Porque nada impede que, a exemplo do que aconteceu com outros produtos, o jogador de futebol tenha sido inflado numa bolha e agora esteja valorizado na exata medida do que ele representa. Se assim for, corre-se o risco de se perder um bom negócio.

* Por Sergio du Bocage, apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil