[Coluna] A educação é o melhor antídoto contra o extremismo político

[Coluna] A educação é o melhor antídoto contra o extremismo político

"ProtestoParte da população ainda embarca em narrativas antidemocráticas. Para o clã Bolsonaro talvez a educação já não seja mais a cura — mas, para as pessoas que ainda apoiam a família, esse ainda pode ser o melhor antídoto."O filho do Bolsonaro estava lá instigando: 'Defende meu pai. Defende meu pai. Meu pai é inocente'. O pai dele é covarde. Tentou dar o golpe e correu."

Essa fala do presidente Lula, que ocorreu em uma entrevista divulgada na primeira quinzena de julho na esteira do anúncio do tarifaço dos EUA, repercutiu nas redes.

Em um primeiro momento, acreditei que as tarifas criariam uma vantagem para o clã Bolsonaro, devido ao fato de envolver uma briga direta com um país como os Estados Unidos e com sanções não triviais. Mas não demorou para gerar o efeito contrário: o fortalecimento do Lula, que levantou a bandeira da proteção à soberania do Brasil e suas instituições.

No lado oposto, me surpreendeu a facilidade com que alguns políticos de extrema direita estavam dispostos a nos subordinar às exigências de um presidente como o Trump, que mais parece uma criança mimada. Não só a velocidade, mas também a incoerência. Ué, não são os maiores defensores da pátria? Máscaras caíram.

Você pode estar se perguntando se está lendo uma coluna de política ou de educação. Não se assuste. Ainda é uma coluna de educação, mas educação e política são temas correlacionados.

É ingenuidade acreditar que faltou educação para o clã Bolsonaro e os políticos que defendem a família. Estamos diante de ações conscientes que nem mesmo a educação pode remediar. No entanto, estratégias como a tentativa de golpe precisam do apoio do povo para avançar. Para apagar essa chama, meus caros, creio que a educação é o maior antídoto. Me chamem de ingênuo, mas acredito e pauto minha tese em dois recortes: educação cidadã e o ensino da história do Brasil.

Educação cidadã

Fico bravo quando vejo alguém do clã compartilhando algum post sobre um algum envolvido no 8 de janeiro que tem 3 filhos e pegou X anos de prisão por "apenas" pichar algo ou quebrar uma estátua. Eles sabem muito bem que esse "apenas" esconde um atentado contra o Estado democrático de Direito, mas ainda tentam minimizar com questionamentos tolos como "golpe sem arma?".

Quando vejo pessoas comuns apoiando eu não fico bravo, mas sim triste. A solução é educação. Precisamos de um projeto de qualidade para inserir a educação cidadã na rede básica de ensino. Talvez nem seja o caso da criação de uma disciplina eletiva, mas sim trabalhar a interdisciplinaridade.

Com essa formação, vamos poder enxergar o 8 de janeiro como ele realmente foi. Não só isso, mas teremos também a oportunidade de sermos agentes ativos no desenvolvimento de nosso próprio país e na defesa de nossas instituições.

Ensino da história do Brasil

Ensinar história é complexo por natureza, pois é difícil separar fatos de percepções pessoais. Essa dificuldade é expressiva no Brasil, devido ao contexto de excessiva polarização e pouca abertura ao diálogo.

Outro ponto é a perseguição que professores de história e humanas em geral têm sofrido. Falei com um que disse que nas aulas sobre ditadura militar sempre aparece algum estudante para refutar com afirmações como "meu avô disse que não é verdade, que era tudo calmo e organizado no período". Como prosseguir? Como trabalhar com esse jovem sem o afastar? É um desafio hercúleo.

Não é raro encontrar casos de professores censurados pelas gestões ou ameaçados por familiares de estudantes. Precisamos, mais do que nunca, valorizar a formação docente de história e demais áreas de humanas. Não só valorizar, mas também criar condições para que estes profissionais possam ensinar história sem medo de serem agredidos por algum familiar que confunde fato com opinião. Como não repetir os mesmos erros no futuro sem conhecer nossa própria história? Não é possível.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.