Em maio, há pouco mais de quatro meses, as agências de notícias informavam que Guayaquil era o epicentro da pandemia do novo coronavírus no Equador. Um terço dos habitantes da cidade, capital econômica do país, já havia sido infectado. E o Equador é o sexto país com mais número de casos de infectados e de mortes entre os dez países da América do Sul.

Não vamos dizer, de forma irresponsável, que esse é o motivo de sete jogadores do Flamengo, além de dois integrantes da comissão técnica – até o momento – terem contraído covid-19. Desde terça-feira passada (15) a delegação rubro-negra está no Equador. O time jogou quinta-feira (17), em Quito, e vai jogar nesta terça-feira (22), exatamente em Guayaquil. Mas no mínimo se faz necessário investigar os procedimentos sanitários adotados naquele país para receber uma delegação estrangeira, que saiu do Brasil com resultados negativos nos testes feitos até a véspera da primeira partida e que agora, podemos dizer, vive quase um drama, pela incerteza da saúde e das complicações que podem advir dessa contaminação e de quantos casos ainda poderão surgir.

Pensando primeiro na questão sanitária: e se o Flamengo tivesse voltado ao Brasil? Teria sido aqui, após contato com familiares, que Isla, Diego, Matheuzinho, Michael, Filipe Luís, Bruno Henrique e Vitinho se descobririam contaminados. Além deles, o médico Marcio Tannure e o auxiliar técnico e ex-zagueiro Juan. Vejam que situação preocupante! E o que fazer agora, na volta ao país, do restante do grupo? Como assegurar que nenhum outro está infectado? Vamos lembrar que há casos de resultados negativos num dia e positivos um ou dois dias depois.

Na questão esportiva mais imediata, é evidente que o Flamengo entrará em campo em grande desvantagem contra o Barcelona, não só no aspecto técnico, mas principalmente emocional. Isso se a partida não for adiada, como já se fala, por iniciativa das autoridades municipais locais. O regulamento não permite o adiamento do jogo, e, entre nós, é melhor jogar e voltar ao Brasil do que ser obrigado a regressar ao Equador em outra ocasião. Mas e para frente? Afinal, nas próximas fases o Flamengo poderá encontrar um adversário de lá.

No domingo o Flamengo terá o Palmeiras, rival direto na briga pelo título do Brasileirão. Como jogar? Não há risco de contaminar os adversários? O que a CBF vai fazer? Já houve casos em outras divisões de adiamento de partidas – aliás, na Série A, temos o exemplo da partida Goiás x São Paulo, um pouco diferente, de fato, mas tão preocupante quanto.

E a Conmebol? O jogo do Flamengo ainda é pela fase de grupos e por mais que uma nova derrota deixe o time em posição delicada na tabela, a classificação para a próxima fase pode ser assegurada nos dois jogos que o time fará no Rio. Mas e se isso acontecer na fase de jogos eliminatórios? O prejuízo será infinitamente maior, e a Conmebol não poderá adiar os jogos, pois a alegação utilizada agora para não adiar a partida terá de ser usada no futuro da mesma forma. Ou haverá prejuízo para o Flamengo.

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Semana passada comentei nesse mesmo espaço sobre a preocupação que havia com a volta da Libertadores, fazendo com que as pessoas entrassem em países com situações diversas no combate à pandemia. Infelizmente essa questão está se confirmando.

Por Sergio du Bocage, apresentador do programa “No Mundo da Bola”, da TV Brasil


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