27/05/2018 - 9:33
Trinta e seis milhões de eleitores colombianos foram convocados às urnas, neste domingo (27), para a primeira eleição presidencial após o acordo de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) – maior guerrilha do país, hoje convertida em partido político com a mesma sigla.
A votação ocorre no momento em que a Colômbia está sentindo o impacto da crise na vizinha Venezuela: meio milhão de venezuelanos cruzaram a fronteira, fugindo da hiperinflação e do desabastecimento. O país enfrenta o desafio de acolher os refugiados, ao mesmo tempo em que tenta incorporar à sociedade civil os 7 mil rebeldes das Farc, que aceitaram depor as armas depois de meio século de conflito com as forcas de segurança colombianas.
Seis candidatos disputam a presidência, mas nenhum deve obter os votos necessários para vencer no primeiro turno. Os dois candidatos favoritos representam dois extremos. O advogado Ivan Duque, de direita, lidera as pesquisas de opinião com 40% das intenções de voto. O ex-guerrilheiro Gustavo Petro está em segundo lugar, com o apoio de 30% do eleitorado. Se eleito, ele será o primeiro presidente de esquerda da Colômbia.
Acordo de paz
O resultado dessa eleição pode definir o futuro do acordo de paz. Duque – que foi funcionário do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e senador – tem o apoio da direita, especialmente do ex-presidente Álvaro Uribe, que foi padrinho político do atual presidente, Juan Manuel Santos, antes de se converter em seu opositor.
Uribe liderou a campanha contra o acordo de paz, assinado em 2016 por Santos. Uribe argumenta que o presidente foi demasiado generoso com os ex-guerrilheiros, que usaram o tráfico de drogas para financiar suas atividades. Se for eleito, Duque prometeu rever algumas concessões. “O narcotráfico não é um crime político e não deve ser anistiado”, disse. Além da anistia, as Farc obtiveram dez cadeiras no Parlamento até 2026. O atual presidente, Juan Manuel Santos, recebeu o Prêmio Nobel da Paz pela habilidade em conduzir o acordo.
Na Colômbia, Uribe é uma figura polêmica. Durante seus dois mandatos (2002-2010), ele realizou uma ofensiva contra os rebeldes das Farc (que mataram seu pai) e do Exército de Libertação Nacional (ELN), que começaram a negociar a paz com Santos. Muitos colombianos atribuem a ele o enfraquecimento das guerrilhas, que chegaram a ter mais de 20 mil homens armados, controlando boa parte do país. Seu governo também é associado a violações de direitos humanos cometidas pelas forcas de segurança e por paramilitares, além de escândalos de corrupção.
Antes de ser legislador e prefeito da capital, Bogotá, o economista Gustavo Petro – principal rival de Duque nesta eleição – pertenceu à guerrilha Movimento 19 de Abril (M-19), que depôs as armas em 1990 e se transformou em partido político. Ele promete combater os paramilitares e impor mais regras aos latifundiários que se opõem ao acordo com as Farc. Para muitos colombianos, cansados dos governos conservadores, ele é associado à mudança.
Efeito Venezuela
A direita colombiana diz que, com Petro, o país corre o risco de se “transformar numa Venezuela”, governada há dezoito anos pelos socialistas. Duque propõe reduzir impostos para atrair investimentos, inclusive na área petrolífera e de mineração. Ele se apresenta como a única alternativa ao candidato de esquerda, que defende taxar os latifúndios improdutivos e investir em novas fontes de energia.
Segundo Petro, se a Colômbia não mudar seu modelo econômico – deixando de investir em petróleo e carvão – acabará “virando uma Venezuela”. A crise no país vizinho começou em 2014, quando o preço do petróleo (responsável por 95% de suas exportações) despencou.
O terceiro colocado nas pesquisas de opinião, Sergio Fajardo, representa o centro-esquerda. Tanto ele, quanto German Vargas Lleras (de centro-direita), que foi vice do presidente Santos, apoiam o acordo de paz, mas querem aumentar a segurança para combater o narcotráfico. Dissidentes da guerrilha e novas gangues estão ocupando as áreas antes controladas pelas Farc.
As pesquisas de opinião indicam que o novo governo só será eleito no segundo turno, no dia 17 de junho, quando os dois mais votados disputarão a Presidência.