O colombiano Egan Bernal está próximo de fazer história na Volta da França, a prova mais tradicional do calendário do ciclismo mundial. O sul-americano manteve a camisa amarela neste sábado, na última etapa alpina, e pode-se dizer que já garantiu a vitória na competição.

A não ser que aconteça um acidente ou problema de saúde de última hora, com um tempo total de 79h52min52s até o momento, Bernal se tornará o primeiro colombiano a vencer a maior corrida do ciclismo quando a competição terminar na famosa avenida Champs-Elysées, de Paris, cumprindo um momento basicamente festivo no domingo.

Aos 22 anos, Bernal também se tornará o mais jovem vencedor da história da disputa no período pós-Segunda Guerra Mundial. Companheiro de equipe de Bernal e atual campeão, o galês Geraint Thomas, que está 1min11s atrás na contagem geral, deve terminar em segundo lugar para dar à equipe Ineos uma dobradinha no pódio.

Já o italiano Vincenzo Nibali, campeão da edição de 2014, venceu neste sábado a etapa de número 20 no percurso de 59,5km entre Albertville e a estância de Val Thorens.

Com uma subida de 33 quilômetros até a estação de esqui de Val Thorens, o cenário também ficou difícil para o francês Julian Alaphilippe, que quebrou depois de começar o dia em segundo lugar e permitiu que o holandês Steven Kruijswijk assumisse o terceiro lugar.

Se confirmar o triunfo, Bernal conseguirá um feito incomparável entre os maiores campeões da Volta da França. Eddy Merckx, Jacques Anquetil, Hinault e Miguel Indurain, cada um com cinco conquistas no currículo, eram todos mais velhos quando venceram a prova pela primeira vez.

Jovem estrela em formação no ciclismo, Bernal assumiu a liderança da corrida na sexta-feira, quando a 19ª etapa foi drasticamente reduzida por conta de um deslizamento de terra em toda a rota destinada para esqui alpino até a estação de Tignes e por uma violenta tempestade de granizo que tornou as condições da estrada das mais perigosas para os pilotos.

Assim, em uma escalada das mais difíceis na montanha mais alta da corrida, o Colo de Iseran, a 2.770 metros acima do nível do mar, o garoto colombiano ganhou ainda mais vantagem em relação a Alaphilippe, que chegou a manter a liderança por 14 dias.

Quando a prova foi paralisada, com Bernal já na descida, os organizadores decidiram que os tempos dos pilotos ao topo da subida rumo a Iseran seriam usados para determinar a classificação geral. E isso deu a camisa amarela a Bernal, que teve aberto de uma vez o caminho para a vitória.

O sul-americano também se mostrou mais forte que Thomas, que exerceu forte pressão no colombiano rumo ao penúltimo estágio. Os dois cruzaram juntos em Val Thorens, com o galês felicitando calorosamente seu sucessor. “Durante toda a etapa, fui pensando, quilômetro a quilômetro, ‘falta cada vez menos’. Quando o Geraint (Thomas) me deu a mão, entendi que tinha ganhado o Tour”, relatou o colombiano.

Diferentemente de Bradley Wiggins – quatro vezes campeão -, Chris Froome e Thomas, os outros três pilotos que ganharam a turnê para a equipe britânica Ineos, Bernal não é um especialista em contra-relógio. Ele construiu seu sucesso nesta edição em apresentações consistentes nas montanhas depois de perder terreno na corrida contra o relógio na semana passada na cidade de Pau, no sudoeste do país. Perpetuando a tradição dos grandes “alpinistas” colombianos, ele prosperou em grandes altitudes e tornou-se apropriado que ele desse o golpe fatal aos rivais em Iseran.

“Ainda temos que ir a Paris, só resta um estágio, mas é incrível, não posso acreditar. Hoje estou mais calmo, mas levarei vários dias para entender o que isso significa”, declarou Bernal, após a etapa deste sábado.

Antes da prova, a equipe Ineos não era considerada tão favorita como em anos anteriores e viu sua hegemonia ser seriamente desafiada pelas concorrentes FDJ, do francês Thibaut Pinot, e Jumbo Visma, do holandês Steven Kruijswijk. Com novas dinâmicas, a corrida se manteve cheia de suspense até Bernal confirmar sua estrela no passo de Iseran.