Um general e um chefe de inteligência da Colômbia foram suspensos nesta quinta-feira (27) pela entidade encarregada de supervisionar os funcionários públicos do país, enquanto são investigados por supostamente vazarem informações sensíveis a um líder guerrilheiro.
Dezenas de conversas e documentos revelados por uma investigação jornalística apontam o general Miguel Huertas e o diretor de inteligência Wilmar Mejía como responsáveis por trocar informações sensíveis com o líder rebelde conhecido como Calarcá para facilitar o porte de armas e evitar bloqueios.
O chefe guerrilheiro comanda uma das dissidências das Farc e está em negociações de paz com o governo de esquerda do presidente Gustavo Petro, embora sem avanços concretos.
“Suspende-se provisoriamente do cargo o general Huertas e o funcionário Mejía, com efeito imediato (…) para dar continuidade à investigação”, disse o procurador Gregorio Eljach ao canal Noticias Caracol.
“Isso não significa que estejam sendo declarados responsáveis, mas é um passo adiante”, acrescentou.
A Procuradoria não especificou por quanto tempo eles permanecerão afastados.
As informações que colocam os funcionários em xeque foram extraídas de telefones e dispositivos eletrônicos apreendidos em julho de 2024, quando Calarcá e outros dissidentes foram detidos temporariamente e depois liberados devido à sua condição de negociadores de paz.
O presidente Petro pediu um “exame forense” dos documentos apreendidos e afirmou que tem “muitas dúvidas” sobre o que foi revelado no fim de semana pela emissora Caracol.
Os envolvidos, que negam as acusações, são investigados pelo Ministério Público e pelo Ministério da Defesa.
– Huertas e Mejía –
Um dos piores escândalos que envolvem o governo de Petro ocorre em meio a pressões dos Estados Unidos, que acusam o presidente de não fazer o suficiente para conter os números recordes do narcotráfico.
Petro considera que a CIA vazou as informações para a imprensa a fim de prejudicar o primeiro governo de esquerda da Colômbia, a nove meses de deixar o poder.
Huertas e Mejía, que apoiaram a campanha presidencial que levou Petro ao governo, têm perfis incomuns dentro da força pública.
Mejía, sem experiência militar, teve uma ascensão vertiginosa na carreira na Direção Nacional de Inteligência. Em apenas 11 meses, passou de ativista universitário e licenciado em educação física a ocupar um alto cargo no órgão.
Huertas, por sua vez, havia sido expulso do Exército pelo governo anterior, depois que a CIA vazou supostos vínculos seus com a guerrilha do ELN, segundo a imprensa. Mas, em uma decisão pouco usual, Petro o reintegrou há três meses.
O presidente se comprometeu a negociar a paz com todos os grupos ilegais ao assumir o governo em 2022, mas a maioria dos processos fracassou e outros estão estagnados.
Petro também acumula tensões com o Exército após afastar vários altos comandos. Segundo a imprensa local, Mejía era responsável por conduzir essa reorganização interna.
Calarcá tem uma ordem de captura suspensa devido às negociações, enquanto os ataques da dissidência contra a força pública continuam.
O presidente americano, Donald Trump, retirou a condição de aliada no combate às drogas da Colômbia neste ano e impôs severas sanções econômicas contra Petro e alguns de seus familiares.
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