Dez militares que participaram do episódio envolvendo ameaças com armas de fogo a civis no norte da Colômbia foram afastados de suas funções nesta quinta-feira (14), informou o Exército colombiano.

“Tomei a decisão de retirar deles a confiança e a responsabilidade de portar armas”, anunciou o general Luis Mauricio Ospina, comandante do Exército, em entrevista coletiva.

Segundo Ospina, entre os sancionados há “oficiais” que não poderão exercer “nenhum tipo de missão de liderança operacional nem de inteligência militar”.

Os uniformizados serão investigados pela Justiça militar e também pelo Ministério Público, anunciou o general, sem detalhar até quando eles permanecerão afastados de suas funções.

No início desta semana, circulou nas redes sociais e na imprensa um vídeo que mostra militares com os rostos cobertos apontando seus fuzis contra crianças, mulheres e outros habitantes de uma área rural, em um incidente que o governo qualificou ontem como de “extrema gravidade”.

O fato ocorreu no município de Tierralta, no departamento de Córdoba.

O general Ospina reconheceu que eram militares que “transgrediram a política institucional, os postulados do Exército Nacional, as leis, a doutrina, as normas e o marco constitucional”.

– Helicóptero é atingido por disparo –

Na quarta-feira, um helicóptero que transportava comissões de investigação do MP e da Justiça Penal Militar foi atingido por um disparo quando se aproximava da região e precisou fazer um pouso de emergência em uma base militar.

“Esse setor onde [o helicóptero] foi atingido é um corredor do narcotráfico”, detalhou Ospina. “Com auxílio da inteligência técnica foi possível estabelecer que [a organização criminosa] Clã do Golfo atribui para si o fato”, acrescentou.

O Clã – autodenominado Autodefesas Gaitanistas da Colômbia – foi formado a partir de remanescentes de organizações paramilitares.

O presidente Gustavo Petro comparou o comportamento dos militares neste incidente com outros ocorridos no auge do paramilitarismo, os esquadrões de direita que, aliados com alguns integrantes do Exército, semearam terror em sua luta contra as guerrilhas de esquerda, antes de sua desmobilização em 2006.

“Voltar ao paramilitarismo e ao despojo de terras seria o pior erro militar da força pública. Isso não pode acontecer neste governo”, escreveu Petro, o primeiro chefe de Estado de esquerda do país, na rede social X, o antigo Twitter.

O presidente também pediu ao Exército que apresentasse “publicamente, ao lado do governo, sua própria investigação destes atos”.

A Defensoria do Povo, órgão estatal que zela pelos direitos humanos, pediu explicação às autoridades sobre “violações aos direitos humanos” em Tierralta, entre eles um suposto “ato de abuso sexual cometido contra uma mulher indígena”.

Ao longo de meio século de conflito interno, os militares estiveram envolvidos em escândalos sobre violações de direitos humanos na Colômbia.

Entre 2002 e 2008, efetivos da força pública assassinaram mais de 6.400 civis que foram apresentados como guerrilheiros mortos em combate, uma prática macabra que ficou conhecida como “falsos positivos”, de acordo com o tribunal que investiga os piores crimes do conflito interno colombiano.

vd/jss/db/rpr/am

X