06/02/2024 - 18:17
O governo da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional (ELN) assinaram, nesta terça-feira (6), em Havana, um acordo para prorrogar por seis meses o cessar-fogo bilateral, que está em vigor desde 4 de agosto, com o compromisso por parte da guerrilha de suspender os sequestros.
“Quem disse que a paz era fácil? Mas quem pode negar que cada passo que se dá não vale a pena e é importante (…) Hoje temos uma prorrogação fortalecida do cessar-fogo de 180 dias”, disse a chefe das negociações da parte do governo, Vera Grabe, após assinar o acordo com seu contraparte insurgente, Pablo Beltrán.
O pacto tinha sido anunciado pelas duas partes na madrugada desta terça minutos antes de entrar em vigor.
“Concordamos em prorrogar a partir da 00:00 hora do dia 6 de fevereiro de 2024, por cento e oitenta (180) dias, o Cessar-Fogo Bilateral, Nacional e Temporário (CFBNT)”, diz o documento divulgado pelas duas partes em suas contas na rede social X.
Durante a cerimônia de encerramento da VI rodada de negociações, iniciada em 22 de janeiro em Havana, Beltrán, chefe da delegação do ELN, afirmou que as partes trabalharam para que o acordo seja “mais robusto, [a fim] de resolver os problemas, de adicionar novas situações, novos compromissos”.
O VII ciclo de negociações será em abril em Caracas, anteciparam.
No texto, com data de 5 de fevereiro, a última guerrilha ativa da Colômbia também se compromete a abandonar as ações de sequestro.
“O ELN, para contribuir com o desenvolvimento do CFBNT, suspende de forma unilateral e temporária as retenções de caráter único”, diz o acordo assinado.
“Há um fato histórico e é que o ELN suspende como decisão as retenções com fins econômicos, como as chama o ELN, esse é um passo fundamental que temos que valorizar”, disse Grabe.
Em nota divulgada nesta terça em Bogotá, a Defensoria do Povo da Colômbia reiterou ao ELN “a imperiosa necessidade de que informe o número de pessoas que tem em seu poder” e que as liberte “sãs e salvas”.
Durante a quinta rodada de negociações de paz celebrada em dezembro no México, o ELN já havia expressado a intenção de suspender os sequestros em troca da cobrança de resgates.
O acordo no México ajudou a superar a crise provocada pelo sequestro, em 28 de outubro, do pai do astro do futebol colombiano Luis Díaz, atacante do Liverpool inglês, que foi libertado 12 dias depois.
As negociações complexas levaram as duas delegações a adiar na segunda-feira o encerramento do ciclo de negociações que pretendia ampliar a trégua, que expirou oficialmente em 29 de janeiro.
Na manhã de segunda-feira, o ELN explicou em um comunicado na rede X que estavam sendo adotadas “medidas para resolver fatores de crise e agregar novos elementos de compromisso” para acordar uma prorrogação do cessar-fogo.
Há uma semana, o governo e o ELN já haviam concordado em prorrogar por sete dias a trégua, para dar tempo às negociações que pretendiam estender o cessar-fogo por mais um semestre.
As partes também acordaram em Havana a criação do Fundo de Multi-doação para o processo de paz na Colômbia.
Segundo Beltrán, não se trata de um fundo para cobrir “assuntos do ELN”, mas para “atender à implementação de todos os acordos”.
Em entrevista à emissora colombiana Blue Radio, o alto comissário para a Paz na Colômbia, Otty Patiño, rechaçou o financiamento ligado aos sequestros e explicou que está relacionado “com a participação em transformações pacíficas nos territórios e também com o fim do conflito”.
Ele acrescentou que o financiamento ligado aos sequestros é um tema superado, mas os guerrilheiros “voltaram a colocá-lo sobre a mesa e naturalmente houve o repúdio, o rechaço” da delegação oficial, dos avalistas e acompanhantes internacionais, que descartaram “essa pretensão de chantagear no sequestro com o tema do financiamento”.
As negociações rotativas de paz com o ELN, que, segundo números oficiais, conta com mais de 5.000 membros, tiveram início em Caracas, em novembro de 2022, sob a liderança do presidente Gustavo Petro, que lançou um plano de Paz Total com grupos rebeldes e organizações do narcotráfico.
Seu antecessor, Iván Duque (2018-2022), suspendeu as conversas com o ELN após um atentado contra um centro de formação de policiais.
A Colômbia enfrenta seis décadas de conflito armado, que já deixou 9,5 milhões de vítimas, entre deslocados, assassinados, sequestrados e desaparecidos.
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