A Colômbia denunciou nesta sexta-feira (7) uma “campanha de estigmatização” contra suas forças de segurança, que estão sob o escrutínio da comunidade internacional por abusos em meio aos protestos antigovernamentais que abalaram o país por dez dias e deixaram pelo menos 26 mortos.

“Há uma campanha de estigmatização das operações das forças de segurança que promovem nas redes sociais a fim de colocá-las contra a sociedade”, disse o ministro da Defesa, Diego Molano, à Blu Radio.

A ONU, a União Europeia, os Estados Unidos e organizações de direitos humanos denunciaram o uso desproporcional da força pela polícia colombiana na repressão às manifestações contra o presidente Iván Duque.

A declaração de Molano foi uma resposta a questionamentos sobre vídeos divulgados em redes sociais, nos quais manifestantes na cidade de Cali denunciam ataques de policiais armados e à paisana em meio a um protesto.

O ministro reconheceu que os homens que aparecem nas imagens fazem parte das forças públicas, mas negou que tenham atacado manifestantes e garantiu que se tratava de investigadores em uma “operação anti-extorsão”.

“A firmeza do governo é contra os vândalos, não contra os manifestantes”, afirmou Molano, sem especificar quem estaria por trás da suposta campanha de difamação.

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Segundo o governo e a promotoria, dissidentes das FARC, que se afastaram do acordo de paz assinado em 2016, e o ELN, última guerrilha reconhecida na Colômbia, estão camuflados entre os manifestantes para promover o “vandalismo” e agredir a força pública.

Três agentes foram baleados e feridos durante os protestos.

O que começou como uma mobilização de rejeição a uma reforma tributária, já retirada de questão, se tornou uma das maiores manifestações contra o presidente conservador. Bloqueios de estradas têm causado escassez de combustível em cidades como Cali e Pereira.

– Diálogo com condições –

A ONU reiterou nesta sexta seu “apelo para que se garanta o direito à liberdade de reunião pacífica e ao protesto” no país de 50 milhões de habitantes.

Também pediu que seja garantido “o acesso gratuito a alimentos básicos, à Missão Médica e às missões humanitárias”, afetados pelos bloqueios.

Na quinta-feira, o presidente conservador pediu um diálogo com “todos os setores”, incluindo o Comitê de Greve, que está promovendo os protestos e agrupa várias organizações.

Seus integrantes têm demandas variadas como reforma da polícia, “renda básica” de cerca de 250 dólares mensais para os setores mais pobres, gratuidade no ensino superior e frear uma iniciativa do Executivo que busca a volta das fumigações de glifosato nas regiões onde a folha de coca é cultivada, entre outros.

Os líderes dos protestos condicionaram a negociação e anteriormente exigiram “a desmilitarização dos campos e das cidades onde massacraram jovens que protestavam pacificamente”.

O governo distribuiu 47,5 mil agentes em todo o país para “garantir a tranquilidade” durante as manifestações.

As passeatas foram em sua maioria pacíficas e foram diminuindo com o passar dos dias. Em algumas cidades, porém, ocorreram distúrbios e confrontos com as forças de segurança, que deixaram pelo menos 26 mortos e mais de 800 feridos.


O mal-estar parece estar se instalando em um dos países mais desiguais do continente, com uma taxa de desemprego de 16,8% e uma pobreza que atinge 42,5% da população.


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