Ao olhar para o lado, o baterista Sergio Machado viu pessoas no mesmo barco. Artistas com identidades fortes, de um código genético criativo fora das caixinhas e sem saber exatamente o que fazer com isso. Eles se juntaram, em um instinto de sobrevivência da espécie que começa a gerar grupos colaborativos sobretudo em São Paulo, e criaram um coletivo para gestarem seus primeiros álbuns. O resultado é um núcleo de investigação artística chamado Disgrama.

Um show neste sábado, 16, no Estúdio Bixiga, vai apresentar um braço do projeto que começa a dar resultados, a Orquestra Laboratório Bastet, com integrantes de linguagens diferentes. Já no dia 22 (sexta), o primeiro artista a ter um álbum lançado pelo Disgrama, Lello Bezerra, faz show do disco “Desde Até Então”, no Sesc Pompeia. Os outros nomes envolvidos no grupo, que terão seus álbuns próprios, são o cantor e compositor de Campinas, Gustavo Infante, o músico e produtor Everton Oikos, o artista visual Bruno Rocha, que se apresenta como Violence; o próprio baterista Sergio Machado e a cantora, de 15 anos, Bebé Salvego.

“Procuramos dar um suporte para artistas que querem investigar o som que fazem”, diz Machado. “Ainda que cheguem com algo muito pronto, tentamos propor esse mergulho.”

Haveria um risco de tornar todos os músicos experimentais demais, de pouca comunicação com um público menos segmentado? “Gustavo Infante vem da canção, Lello é mais experimental, mas o objetivo não é procurar o estranhamento. O processo é do experimento, mas isso não significa deixar todos cerebrais. O disco da Bebé, por exemplo, vai ter uma linguagem mais pop.” Ele se refere à menina de 15 anos que passou pelo programa The Voice Kids mas que tem potencial para furar essa bolha. Bebé Salvego, de uma família de músicos de Piracicaba, no interior de São Paulo, tem uma voz e uma maturidade de interpretação assustadoras para a sua idade. Machado vai produzi-la pelo Disgrama para um disco que será lançado em 2020, com composições próprias e de parceiros. E aí será o teste de fogo.

A parte das experimentações sonoras é feita em conjunto entre os músicos do coletivo e o artista. Seriam esses encontros parecidos com gravações colaborativas entre nomes que atuam em São Paulo, como Thiago França, Rômulo Fróes e Rodrigo Campos? Não, diz Machado. “Eles já se conheciam, já gravavam. Trabalhamos em geral com artistas que estão começando.”

Seria, então, o oposto. Enquanto a turma de São Paulo se junta pelas afinidades, os nomes do Disgrama se aproximam pelas diferenças. Lello está mesmo na outra ponta das canções de Bebé. Ele é um guitarrista que tem se apresentado com Machado. No palco, só os dois. “Ele tem levado a guitarra para um lado de processamento que a faz soar como se fosse um sintetizador”, diz o baterista.

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Machado, fora do coletivo, é atuante em frentes. Foi o baterista dos Racionais MC’s na recente turnê e acaba de gravar um documentário sobre o álbum “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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