Denominar o Brasil como o País do futebol pode não ser exagero, principalmente agora no clima de Copa do Mundo, mas a paixão do brasileiro por jogos vai para além das quatro linhas. Os esportes eletrônicos tornaram-se uma grande diversão familiar e as modalidades de games crescem ano a ano. A nona edição da pesquisa Game Brasil indica que 74% da população pratica para valer ou pelo menos se distrai com videogames. A apuração também trouxe outra informação interessante: mulheres já representam 51% do público gamer. “As mulheres chegaram e estão cada vez mais engajadas”, afirma Carlos Silva, coordenador da pesquisa. Ele explica que um dos fatores que tornaram tal crescimento possível, porque comprar um console ou computador específico para jogos ainda representa custos elevados para os padrões nacionais, é a possibilidade de se jogar pelo celular. “Esse comportamento feminino se deve muito ao smartphone”, diz Carlos Silva.

CRAQUE Nyvi Estephan trabalha como apresentadora de eventos gamers e também é jogadora: atividades complementares (Crédito:Divulgação)

Em qualquer transporte público nas grandes cidades brasileiras é possível encontrar mulheres de várias idades com os olhos vidrados e as mãos agitadas em seus smartphones. E, quanto mais rápido são os toques nas telas, mais ligeiro inúmeros pontos coloridos aparecem e somem do visor. “É muita diversão. Fico tão empolgada que, quando jogava dentro do metrô, cheguei a passar da estação na qual deveria descer”, conta a publicitária Adriana Destro Nakasone. A paulistana de 26 anos diz, que apesar de não ser profissional gamer (“Falta pouco para alcançar esse nível”), ama a atividade. “O game é a forma que encontrei para me descontrair, às vezes fico no computador até as três horas da madrugada”, diz.

Dentro desse universo gamer, todos os gostos e bolsos são contemplados. Há disputas no interior do próprio jogo, contra a máquina, ou on-line, contra outra pessoa, jogos de futebol, claro, e outros em que os participantes têm de desenvolver a melhor estratégia para se sair vitorioso, as badaladas lutas com personagens. Quando o assunto é custo, as possibilidades também são muitas: há jogos pagos e gratuitos, integral ou parcialmente, a depender do aparelho ou da plataforma em que se está. Existem modelos em que se gasta dinheiro ao adquirir elementos dentro do jogo. Alguns gamers já popularizaram esse meio. “Existem jogos grátis no celular que podem proporcionar muita diversificação, já que ter acesso as máquinas e jogos mais modernos ainda custa bastante. Um dos consoles mais baratos sai em torno de R$ 2.500.”, explica Mariana Ayrez. Ela é catarinense, tem 31 anos e há dez é especialista em jogos eletrônicos.

No campo gamer, o machismo também se faz presente. “Historicamente, o mercado foi desenvolvido para os meninos”, afirma Nyvi Estephan, que tem 30 anos e nasceu em São Paulo. Ela é pioneira no ramo de apresentação de eventos gamers e uma das maiores experts em jogos eletrônicos. “Quando criança, quem ganhou um videogame foi o meu irmão”. Outras mulheres confirmam os episódios de machismo. Dizem que, quando os caras descobrem que o nome fantasia escolhido para jogar esconde uma mulher, o ambiente que era legal passa a ser tóxico. “Jogando em rede somos muito mais exigidas, somente por sermos mulheres”, conta Nyvi. Mais: no caso de Mariana Ayrez, os insultos foram muito acima de palavras grosseiras. Ela diz que já sofreu ataques dos mais sórdidos. “Há dez anos sou gamer. Nesse período, já ouvi todos os tipos de palavrões que você possa imaginar”, afirma. As agressões atrozes já a fizeram abandonar uma apresentação. “Sou casca-grossa, mas há dias que são difíceis”, lembra. A inversão do gênero dominante entre jogadores já é realidade, mas, agora, ultrapassar a barreira do machismo depende da ação coordenada de toda comunidade gamer.