Após nove meses de suspense, o Comitê Olímpico Internacional (COI) autorizou, nesta sexta-feira (8), a participação de atletas russos e bielorrussos nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 com bandeira neutra e sob condições estritas, antevendo uma delegação reduzida.

A decisão se refere a “atletas individuais neutros” que passaram pelas fases de classificação, não apoiaram ativamente a guerra na Ucrânia e não têm contrato com o exército ou com agências nacionais de segurança.

Atualmente, onze atletas atendem a esses critérios, oito russos e três bielorrussos, informou o COI em um comunicado.

Horas depois do anúncio, a Rússia denunciou estas condições de participação como “discriminatórias” e “contra os princípios esportivos”, segundo as declarações do ministro russo dos Esportes, Oleg Matytsine, citado pela agência de notícias TASS.

Ele afirmou, no entanto, que os atletas russos que se classificaram para os Jogos Olímpicos de 2024 “provavelmente vão participar”.

– Guinada ucraniana –

Paralelamente, cerca de sessenta atletas ucranianos já estão classificados para os Jogos Olímpicos de Paris, que serão celebrados entre 26 de julho e 11 de agosto de 2024.

A questão é crucial, pois o receio de uma delegação ucraniana ausente ou muito pequena em Paris tem sido motivo de preocupação para a entidade olímpica e, do ponto de vista político, isto tornaria a presença de atletas russos algo ainda mais espinhoso, mesmo sem hino ou bandeira.

Após a exclusão de russos e bielorrussos do esporte mundial, no final de fevereiro de 2022, após a invasão russa da Ucrânia, o COI refletiu sobre como organizar seu retorno, explicando em diversas ocasiões que os atletas não deveriam “pagar” pelos atos de seus governos.

Em março passado, a entidade olímpica recomendou às federações internacionais que reintegrassem os atletas destas nacionalidades nas competições sob uma bandeira neutra, adiando para “um momento apropriado” sua decisão sobre os Jogos Olímpicos de Paris-2024 e os de Inverno de 2026, em Milão-Cortina.

O COI tomou tempo para avaliar o desenvolvimento das competições e levou em consideração a evolução da posição do governo ucraniano, que inicialmente exigia que seus atletas boicotassem qualquer evento envolvendo russos, antes de abrandar sua posição durante o último verão boreal no hemisfério norte (inverno no Brasil).

Na quinta-feira, o ministro interino dos Esportes da Ucrânia, Marviy Bidnyi, explicou à AFP que não queria a presença de russos e bielorrussos nos Jogos de Paris, considerando sua bandeira neutra “manchada de sangue” e temendo que o evento servisse para “propósitos de propaganda militar”.

Mas não mencionou uma ameaça de boicote. Enquanto isso, vários atletas ucranianos manifestaram o desejo de enfrentar e vencer os russos nas competições esportivas.

Embora as federações internacionais tenham seguido essa recomendação de forma dispersa, uma vez que o atletismo, em particular, continua rejeitando a integração dos russos, a 12ª cúpula olímpica organizada na terça-feira, em Lausanne, começou com um sinal claro para o mundo esportivo.

– Sanções mantidas –

Os representantes das federações internacionais, dos 206 comitês olímpicos nacionais e dos atletas, exigiram uma decisão “rápida” para permitir a presença do pequeno grupo de atletas russos e bielorrussos que passaram pelas fases de classificação.

Em um exercício de equilibrismo entre o fato de levar em conta o conflito ucraniano e a autonomia política do esporte, o COI determinou a reintegração dos atletas dos dois países, mas mantendo as sanções contra seus governos.

Desde fevereiro de 2022, o comitê proíbe qualquer evento internacional em solo russo ou bielorrusso, a execução de seus hinos, a presença de bandeiras e dirigentes durante as competições e nenhum representante dos dois Estados será “convidado ou credenciado para os Jogos Olímpicos de Paris-2024”.

O COI suspendeu, em 12 de outubro, o Comitê Olímpico Russo, agora privado de financiamento olímpico, por ter colocado sob a sua autoridade cinco organizações esportivas de regiões ocupadas da Ucrânia.

A organização relembrou, por fim, que “pelo menos 3.000 atletas ucranianos e outros membros da comunidade olímpica ucraniana” se beneficiaram de fundos de solidariedade do COI para poderem treinar nos últimos doze meses.

Hoje, “está previsto que a delegação ucraniana tenha mais ou menos o mesmo tamanho que nos Jogos de Tóquio-2020”, informou a instituição, sediada em Lausanne.

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