O Comitê Olímpico Internacional (COI) começa em Tóquio a se adequar às mudanças comportamentais dos atletas fora do âmbito esportivo.

De acordo com o previsto no início de julho por sua Comissão Executiva, a entidade aproveitará os Jogos de 2020 para validar a extensão da liberdade de expressão dos competidores, questão considerada crucial depois de movimentos como o “Black Lives Matter” (“Vidas Negras Importam”) e, até mesmo, acontecimentos recentes na Eurocopa, competição marcada por atos de racismo, como o do jogador da Áustria Marko Arnautovic, suspenso por um jogo depois de insultos a Gjanni Alioski, da seleção da Macedônia da Norte; e a dos torcedores da Inglaterra, que se voltaram contra os jogadores negros Marcus Rashford, Jadon Sancho e Bukayo Saka, que perderam seus pênaltis na decisão contra a Itália.

Em Tóquio, os atletas e demais participantes dos Jogos poderão se expressar sobre questões políticas ou sociais quando falarem para a imprensa, em reuniões de equipe, nas redes sociais e até mesmo antes do início das provas ou jogos.

Uma abertura, mesmo que ainda leve, em relação ao artigo 50 da Carta Olímpica, que diz que “não será permitida dentro das instalações Olímpicas qualquer demonstração ou propaganda política, religiosa ou racial”. A determinação foi motivada pela manifestação dos velocistas americanos Tommie Smith e John Carlos nos Jogos do México, em 1968, quando levantaram um punho de luva preta no pódio dos 200 metros.

A mudança do COI acompanha o momento em que muitos atletas mostram seu apoio à luta contra o racismo, especialmente nos Estados Unidos, onde jogadores de basquete e de futebol americano passaram a se ajoelhar e levantar os punhos antes do início de um jogo, inclusive durante a execução do hino dos EUA.

No entanto, e sob pena de sanção, o Comitê ainda proíbe manifestações durante as provas, nos pódios, durante os hinos, na Vila Olímpica ou “visando a determinadas pessoas, países, organizações ou tocando a sua dignidade”.

A expectativa agora é pelo comportamento dos atletas, uma vez que a velocista americana Gwen Berry deu as costas à bandeira dos Estados Unidos durante o hino do país nas provas que a classificaram para Tóquio.

– Mais mudanças para o futuro –

Em sua 138ª sessão, realizada já em Tóquio, a Comissão Executiva do COI decidiu por unanimidade que o alpinismo de esqui estará no programa dos Jogos Olímpicos de Inverno de Milão, em 2026, mas como “esporte suplementar”, sem garantias de continuidade. Para o Comitê, a modalidade tem a vantagem de não necessitar de nenhuma construção, o que virou um critério importante, uma vez que o COI decidiu limitar investimentos onerosos e muitas vezes dissuasivos para as cidades-sede.

A inclusão da modalidade como teste, no entanto, mostra um COI ansioso por renovar sua audiência, como garantia de futuro para suas receitas televisivas, deixando assim às cidades-sede dos Jogos a possibilidade de propor novas disciplinas, se elas forem “espetaculares” e, ao mesmo tempo, “culturalmente relevantes no país anfitrião e além”.

E a modalidade estará em casa nos Alpes, já que os esquiadores europeus, especialmente os italianos, monopolizam os pódios mundiais, apesar de a Federação Internacional ter 37 países-membros de quatro continentes.

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