A medalha de ouro de Rebeca Andrade no individual geral no Mundial de Ginástica Artística em Liverpool, na quinta-feira, trouxe à memória Simone Biles e sua desistência de participar das competições da mesma modalidade nos Jogos Olímpicos de Tóquio. A americana seria uma das adversárias que poderiam estar no caminho da conquista da brasileira. O fator psicológico no esporte é apontado como motivo de queda de rendimento e até mesmo de pausas em carreiras.

Ciente da importância da saúde mental, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) tem realizado um trabalho especial, interdisciplinar, com mais de 1.300 atletas dos mais diversos esportes. Na entidade, inclusive, há uma estrutura cuidadosamente preparada e que vai além das conversas semanais.

“Hoje, essa área conta com uma equipe grande. São vários profissionais, do próprio comitê olímpico e autônomos que contratamos para serviços especiais. Essa equipe trabalha acompanhando atletas e dando suporte, também, para comissões técnicas e confederações. Tentamos cobrir o máximo que conseguimos, no alcance do esporte e das modalidades esportivas brasileiras”, afirmou Eduardo Cillo, coordenador de psicologia esportiva do COB.

Ele explica como os profissionais de saúde chegam aos atletas que necessitam de acompanhamento. Tudo começa com um monitoramento feito junto às confederações. A partir daí, os atletas entram no sistema do COB e começam a ter seus dados reunidos e mapeados.

“A partir do momento que o atleta entra no nosso sistema, passamos a reunir dados, mapeamos as necessidades dele, e, dependendo das informações, indicamos serviços específicos para o seu trabalho. Quando o atleta não tem um serviço de preparação psicológica esportiva particular ou da confederação, oferecemos através da nossa equipe. É um trabalho de acompanhamento rotineiro, no dia a dia de treinos e competições, tentando oferecer um suporte personalizado para as necessidades de cada atleta”, explicou.

MUDANÇA

Apesar de o assunto estar mais vivo nos tempos atuais, as questões mentais no esporte não são recentes. De acordo com Eduardo, o que mudou de anos para cá foi a atitude dos atletas, que passaram a expor suas necessidades e hoje mostram para o mundo tudo aquilo que passam fora dos holofotes e das câmeras das grandes competições.

“Isso é efetivamente importante, porque se atletas que são capazes de grandes feitos mostram que também têm suas dificuldades, fica entendido para o público geral que todos estão suscetíveis a isso, que existem dificuldades e oscilações emocionais em todos os lugares. Que até pessoas que ocupam o lugar de heróis e heroínas também passam por isso. Esse é o primeiro passo para você também poder se cuidar. É se auto-observar, admitir e procurar ajuda”, afirmou Eduardo Cillo.

Deixando uma mensagem de alerta, o profissional traz à tona a importância do acompanhamento psicológico estar presente na carreira dos esportistas ainda enquanto jovens, no início de suas trajetórias. De acordo com ele, essa é a melhor maneira de “combater” esse problema que assola tantas pessoas.

“Não tem muito segredo, precisamos monitorar. Quanto mais cedo, melhor. De preferência desde a iniciação esportiva ou das categorias de base, porque assim você consegue dar recursos, instrumentos e ferramentas para que os atletas possam se conhecer e lidar com suas situações pessoais, com as suas emoções. É importante frisar que a habilidade psicológica é habilidade, não é capacidade. A habilidade, você aprende e aprimora. Quanto mais oportunidade você tem para treinar e aprimorar esse manejo de você mesmo, melhor você fica”, diz.