ROMA, 04 MAR (ANSA) – Pesquisa de boca de urna aponta que nenhum partido ou coalizão terá maioria no Parlamento da Itália.   

De acordo com levantamento feito pelo consórcio “Opinio Italia”, que reúne três institutos de opinião, a pedido da “Rai”, o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) teve 29% a 32% no Senado e entre 29,5% e 32,5% na Câmara.   

No entanto, a legenda seria superada pela coalizão de centro-direita, que reúne o moderado Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi, e os ultranacionalistas Liga Norte e Irmãos da Itália (FDI) e alcançou entre 33,5% e 36,5% dos votos no Senado e 33% e 36% na Câmara, segundo a boca de urna.   

Já a aliança do governista Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, teria sofrido uma dura derrota e ficado com 25% a 28% no Senado e 24,5% e 27,5% na Câmara. “As pesquisas de boca de urna se demonstraram muito elásticas na história, mas se esse for o resultado final, será um dado negativo para o PD, nós passaremos à oposição”, reconheceu o líder do partido na Câmara, Ettore Rosato, autor do atual sistema eleitoral do país.   

Se os números da boca de urna se confirmarem, nenhuma aliança terá maioria dos assentos no Parlamento, condição necessária para formar um governo. Caso isso ocorra, a Itália poderá ter uma “grande coalizão”, aos moldes da Alemanha, ou o presidente Sergio Mattarella convocará novas eleições.   

A apuração começou após o fechamento das urnas, às 23h (19h em Brasília) e prosseguirá durante toda a madrugada. Mas um resultado definitivo de quantos assentos cada partido terá no Parlamento deve sair somente na manhã desta segunda-feira (5), devido ao complicado sistema eleitoral italiano, que mistura os modelos proporcional e majoritário.   

No entanto, entre 20h e 22h (em Brasília), a imprensa italiana deve divulgar as primeiras projeções, já com base nos dados da apuração.   

Campanha acirrada – A curta campanha eleitoral na Itália iniciou extraoficialmente em janeiro, após a dissolução do Parlamento pelo presidente Mattarella.   

Divididos entre três blocos, centro-esquerda, centro-direita e M5S, os partidos iniciaram sua corrida apelando para o bolso dos cidadãos. Da alíquota única no imposto de renda proposta por Berlusconi à “renda de cidadania” dos 5 Estrelas, os diferentes grupos tentaram usar cortes de taxas e aumento de benefícios sociais para tentar conquistar um eleitorado ainda impactado pela crise econômica dos últimos anos e com taxa de desemprego superior a 11%.   

A campanha ganharia novos tons no fim de janeiro, com a morte de Pamela Mastropietro, jovem de 18 anos encontrada desmembrada na província de Macerata, centro do país, e o subsequente atentado de um militante neofascista contra imigrantes negros.   

Nas semanas seguintes, marchas antifascistas tomaram conta do país, e a centro-esquerda do PD, liderada pelo ex-premier Matteo Renzi, tentou apelar para o “voto útil” para impedir a chegada da extrema direita ao governo com Berlusconi.   

O tema da imigração foi um dos principais da campanha eleitoral, com uma população cada vez mais descontente com a chegada em massa de migrantes forçados aos portos do país via Mar Mediterrâneo – e cada vez mais candidatos dispostos a expulsá-los.   

A disputa foi acompanhada com atenção pela União Europeia, que vem tentando impor um sistema de redistribuição de solicitantes de refúgio a todos os seus Estados-membros, política que tem a Itália como maior entusiasta.   

Por outro lado, o discurso antieuro perdeu força, com partidos antes eurocéticos, como Liga Norte e M5S, prometendo manter a Itália na zona da moeda comum e na UE para reforçar sua posição no cenário pós-Brexit. Nenhuma das maiores legendas do país empunhou a bandeira contra o euro.   

O que acontece agora? – Com os resultados definitivos das eleições, começarão as negociações para a formação de um novo governo, ainda de maneira extraoficial. A sessão de abertura da nova legislatura será apenas em 23 de março.   

Na ocasião, serão escolhidos os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, quando será mais fácil entender a composição de forças no Parlamento e se algum grupo é realmente capaz de formar maioria.   

Até 25 de março, os deputados e senadores criarão os grupos parlamentares, cujos líderes serão chamados um a um para consultas com Mattarella, o que deve ocorrer entre o fim de março e o início de abril – durante todo esse período, Paolo Gentiloni seguirá governando o país, mas apenas para cuidar de assuntos correntes.   

Terminadas as consultas, Mattarella escolherá o encarregado de formar um novo governo, que precisará passar pelo voto de confiança do Parlamento antes de tomar posse. (ANSA)