As forças separatistas tomaram nesta terça-feira (30) quase toda a cidade de Áden, a segunda do Iêmen, depois de três dias de combates contra as forças governamentais, tornando-se, assim, um ator-chave para o conflito.
Segundo fontes militares, o palácio presidencial em Áden, capital do sul, continuava esta noite cercada por combatentes separatistas que se apoderaram de quase todas as posições de seus oponentes na cidade portuária, com exceção do palácio (ao sul) e do distrito de Dar Saad (ao norte).
Pelo terceiro dia consecutivo, um grande número de civis ficaram em suas casas diante do medo de serem vítimas do fogo cruzado, e várias organizações humanitárias suspenderam suas operações.
O governo do presidente Abd Rabo Mansur Hadi se instalou em Áden depois da tomada da capital iemenita, Sanaa, em setembro de 2014, por rebeldes huthis, que combatem com a ajuda militar de uma coalizão árabe dirigida pela Arábia Saudita desde março de 2015.
Hadi está refugiado na Arábia Saudita, país fronteiriço com o Iêmen, mas seu premiê, Ahmed bin Dagher, e outros ministros estavam vivendo nestes últimos dias no palácio presidencial de Áden.
A briga entre separatistas do sul e o poder, apoiada por Riad, deu uma dimensão ainda mais complexa ao conflito iemenita, que em três anos deixou mais de 9.200 mortos e provocou, segundo a ONU, “a pior crise humanitária do mundo”.
A coalizão liderada pela Arábia Saudita, que intervém militarmente no Iêmen desde 2015, pediu na terça-feira um cessar-fogo imediato na cidade de Áden.
“Os separatistas cercaram o palácio e controlam a entrada principal”, informou à AFP um oficial do Exército.
Até agora, os principais integrantes da coalizão – Emirados Árabes e Arábia Saudita – não intervieram militarmente em Áden para por fim aos combates.
– Sem solução à vista –
Segundo uma fonte militar, alguns ministros escaparam do palácio na noite de segunda-feira em embarcações. Quando chegaram a uma base da coalizão em Brega e lhes asseguraram que não lançariam nenhum ataque contra o palácio, decidiram retornar, informou uma fonte do governo.
Os combates com tanques e artilharia explodiram no domingo entre separatistas do sul, partidários da independência, e forças do governo do presidente Hadi. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) deu um balanço de pelo menos 36 mortos e 185 feridos em dois dias.
O movimento separatista do sul do Iêmen, que era um Estado independente antes de sua fusão com o Norte, em 1990, é muito poderoso.
Até maio de 2017, era aliado do presidente Hadi – apoiado por uma coalizão liderada pela Arábia Saudita – que estabeleceu seu governo em Áden, após sua expulsão da capital, Sanaa, pelos rebeldes huthis – apoiados pelo Irã – em 2014.
A aliança do governo com os separatistas do sul começou a se complicar em abril, quando Hadi destituiu o ex-governador de Áden, Aidarus al Zubaidi, que no mês seguinte formou um Conselho de Transição do Sul, autoridade paralela controlada pelos separatistas.
Na semana passada, este conselhou deu um ultimato a Hadi, a quem exige a destituição do premiê, Ahmed ben bin Dagher, e “mudanças no governo”, acusado de corrupção.
O ultimato expirou no domingo e nesse dia explodiram os confrontos. Os separatistas enviaram reforços e em alguns bairros pareciam em melhor posição que as unidades governamentais, segundo moradores.
Os civis de Áden se mantêm em resguardo devido aos combates.
Enquanto isso, na província de Shabwa (sul), 14 pessoas, entre elas soldados, morreram na terça-feira em um “atentado suicida” lançado contra um alvo militar, indicou uma fonte do Exército nesta região.
O atentado teve como alvo uma milícia apoiada pelos Emirados Árabes Unidos no leste da cidade de Ataq, capital da província, informou esta fonte, que pediu para ter sua identidade preservada e acusou extremistas islamitas.
A guerra no Iêmen deixou mais de 9.200 mortos e quase 53.000 feridos desde março de 2015. Não há solução à vista.