Um cheiro doce e enjoativo enchia o ar enquanto Sherwood Robyn, um coala de 12 anos de idade, era levado para uma pequena sala de exames no primeiro hospital para mamíferos marsupiais da Austrália.

De longe, ela aparentava boa saúde. Mas uma inspeção mais minuciosa revelou as “nádegas úmidas” – um sinal claro da infecção por clamídia, que está devastando o icônico animal nativo da Austrália.

Sem qualquer cura disponível, Robyn já está passando por estágios avançados da doença sexualmente transmissível e, provavelmente, terá uma morte dolorosa dentro de alguns meses, segundo os veterinários.

A propagação e o impacto da doença têm sido intensificados pelo desenvolvimento humano que invade o território dos animais, disse à AFP Cheyne Flanagan, diretora clínica do Hospital Koala, na cidade de Port Macquarie.

A doença “é impulsionada pela pressão sobre os animais. Quando há um habitat perturbado (…) eles são forçados a viver mais juntos, o que leva a uma maior interação entre eles”, afirmou Flanagan.

Isso faz com que a doença se espalhe rapidamente, acrescentou a médica, lembrando que outros fatores, como o aumento da competição por território e por alimento, podem aumentar o problema.

O prognóstico para Sherwood Robyn reflete a perspectiva terrível para as populações de coala na costa leste da Austrália com a perda de habitat, os ataques de cães, os atropelamentos, as mudanças climáticas e as doenças.

Acredita-se que havia mais de 10 milhões de coalas antes da chegada dos colonizadores britânicos, em 1788. Em 2012, uma contagem nacional revelou a existência de cerca de 330.000 exemplares desta espécie.

Em algumas partes do estado de Queensland, os coalas foram “efetivamente extintos”, de acordo com um estudo recente. No estado de New South Wales, a população desse mamífero diminuiu mais de 30% desde 1990. Ambas as regiões, assim como o Australian Capital Territory, listaram o animal como “vulnerável” à extinção.

“Eu não sou nem um pouco otimista”, disse Damien Higgins, chefe do centro de saúde do coala na Universidade de Sydney, em relação às perspectivas de sobrevivência deste animal no longo prazo.

A clamídia, presente há algum tempo entre as populações de coala, pode causar cegueira, infertilidade e morte. A linhagem da doença nesses animais é diferente da humana: estudos recentes sugerem que ela pode ter se espalhado inicialmente para os marsupiais através dos animais trazidos pelos primeiros colonos europeus para a Austrália.

Mas o desenvolvimento humano crescente no território dos coalas exacerbou o impacto da doença nos últimos anos.

 

– ‘Morte por mil cortes “-

 

O Hospital Koala foi criado na cidade costeira de Port Macquarie em 1973, e nos últimos anos tem sido observada uma mudança significativa no tipo de pacientes.

Flanagan diz que hoje são observados principalmente marsupiais mais velhos, e que os números de admissão caíram dramaticamente, sugerindo que as populações estão em extinção.

A médica acredita que as mudanças se devem à perda de habitat, uma vez que as árvores são derrubadas para abrir caminho para o desenvolvimento urbano, e descreve o impacto sobre os coalas como “morte por mil cortes”.

Devido a esses cortes de árvores, coalas jovens são levados a procurar locais adequados para se estabelecer em áreas mais afastadas, o que os torna vulneráveis a atropelamentos por carros e a ataques de animais, disse o coordenador do hospital, Mick Feeney.

O animal só come as folhas de uma pequena variedade de eucalipto – limitando a sua oferta de alimentos e aumentando os seus problemas.

“Não é um problema fácil de se lidar em uma área onde há um grande crescimento” populacional, disse à AFP o prefeito da área de governo local de Port Macquarie-Hastings, Peter Besseling.

“As pessoas querem se mudar para o litoral, e precisamos estudar maneiras de proteger o coala a longo prazo”, acrescentou.

Pesquisadores da Universidade de Sydney, que colaboraram com o Hospital Koala há décadas, estão trabalhando duro para mitigar os desafios enfrentados pela espécie, principalmente ao estudar as doenças que eles sofrem.

“O outro aspecto é o controle de danos. Considerando que coisas como o desenvolvimento estão acontecendo, é necessário tentar reduzir de alguma forma o impacto sobre os coalas”, disse Higgins.

“É um band-aid, de certa forma, para tentar manter as populações tão saudáveis quanto possível”, completou o pesquisador.

 

grk/mp/lto/db