O Movimento dos Sem Terra e a Confederação Nacional de Agricultura mediram forças na Esplanada dos Ministérios durante as manifestações deste domingo, 17 hoje. Em campos opostos no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, os grupos foram responsáveis por arregimentar a maior parte dos manifestantes que ocuparam as duas vias de acesso ao Congresso Nacional durante a manhã e tarde deste domingo.

Do lado pró-impeachment, a maior entidade que representa os ruralistas, a CNA, financiou a vinda de 500 ônibus, partindo de várias regiões do País. Os manifestantes começaram a chegar logo cedo nas proximidades da Esplanada e encontraram uma estrutura de recepção. Frutas, água e material de divulgação, nas cores verde amarelo.

O empenho para aumentar o movimento na rua se repetia no trio elétrico, montado pelo movimento Vem para a Rua. Entre as pessoas convidadas para animar a manifestação estava o presidente da entidade, João Martins da Silva Júnior.

Depois de um discurso curto, recheado de críticas à presidente, Martins Filho contou à reportagem as razões para tamanha ofensiva. O setor já estava descontente com o governo. Mas a gota d’água foi a reação da presidente ao discurso feito pelo secretário de Finanças e Administração da Contag, Aristides Santos, no início de abril, defendendo a invasão de propriedades.

“Essa mobilização fantástica foi organizada justamente depois desse episódio. Chegarmos aqui em Brasília com mais de 22 mil produtores.”

Depois de Dilma e Lula, a ministra da Agricultura Kátia Abreu foi a mais criticada. “Ela não fez o papel que merecia pela sua origem. Ela optou por apoiar um governo corrupto e não representa mais os produtores rurais”, disse Martins. O setor ruralista esteve dividido no apoio à ministra desde sua indicação, no início do governo.

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Mas nem todos que estavam na Esplanada no lado pró-impeachment demonstravam a convicção do presidente da CNA. A agricultora Laurete dos Santos, de 46 anos, veio de Campo Grande sábado, em um ônibus fretado por sua cooperativa para engrossar o movimento pró-impeachment na Esplanada dos Ministérios. Envergonhada, no entanto, fazia questão de deixar claro que não queria a saída da presidente Dilma Rousseff.

“Sou assentada. Recebi muito desse governo. Vamos trocar a presidente para colocar Michel Temer, que é farinha do mesmo saco, banana do mesmo cacho?” Quando questionada sobre as razões que a levaram a vir para a Esplanada, mesmo com tanta convicção na defesa da presidente, respondeu: “Por causa da cooperativa que quer tirá-la de qualquer forma.”

Laurete já participou de outras manifestações. Mas nenhuma com tamanha infraestrutura e organização. Chapéu de aba larga, nas opções branca, verde ou amarela, uma tenda com água, fartura de frutas e um almoço que, em suas palavras, estava “muito bem feito”. “Não houve correria. Todos comeram bem, com tudo do bom e melhor”, completou, numa referência à tenda montada pela CNA para receber ônibus de todo o País.

Não foi à toa que ambulantes reclamavam da pouca movimentação. “Achei que venderia tudo rapidamente. Cheguei ao meio-dia e ainda tenho quase 20 quentinhas aqui esperando comprador”, afirmou a vendedora Tainara Alves dos Santos.

“Muita gente chegou aqui já depois do almoço. E quem quer pode fazer uma pausa e ir até o ponto de apoio”, disse Cecília Araújo, decoradora que veio com grupo de pecuaristas em ônibus fretado de Araguari, Minas.

O vendedor de sorvetes Crispim Nunes, sem graça admitiu: “Pensava que aqui as coisas sairiam mais rápidas que do lado do MST. Estava enganado. As vendas aqui estão bem piores, por exemplo, do que na festa da posse.”

O presidente executivo do Sindicato de Indústrias de Farmacêuticos do Estado de Goiás, Maçal Henrique Soares, reconheceu que o grande responsável por encher o lado pró-impeachment da Esplanada foi a CNA. A exemplo do presidente da entidade, ele considerou como divisor de águas o discurso feito pelo representante da Contag em cerimônia do Palácio do Planalto, em abril. “Não há dúvida de que a elite ficou contra a presidente”, disse.


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