Em um parque, Renata Dania bordava sozinha até ser interrompida por uma idosa. Talvez esperando borboletas ou pássaros, a mulher demonstrou espanto ao ver o que a jovem desenhava com o fio. “Nossa, uma bundinha. Se fosse assim na minha época, talvez eu tivesse bordado mais”, brincou a senhora.

Cenas como essas diminuíram a apreensão de Renata e das outras cinco integrantes do coletivo Clube do Bordado, criado em 2013 em São Paulo. “A gente tinha receio que achassem ofensivo. A nossa intenção nunca foi essa. Sempre quisemos valorizar o peso que o bordado carrega, de resgatar a memória das mulheres, perpetuando esse aprendizado de geração para geração”, relata.

Em três anos, o grupo teve mais de 5 mil alunos em cursos presenciais e 80 mil em plataformas a distância. É um dos principais exemplos no País do crescimento das artes manuais entre jovens mulheres que recorrem à técnica como hobby ou alternativa de renda, fenômeno que ainda ganhou traços de ativismo com o crescimento do movimento feminista no Brasil.

A internet impulsionou esse fenômeno por conectar pessoas com interesses comuns e facilitar o acesso a informações, desde imagens com o resultado de trabalhos até vídeos tutoriais. É o caso da fotógrafa Raissa Brito, de 29 anos, que fazia artesanato eventualmente, como hobby e alternativa de renda. Em redes relacionadas ao tricô e ao crochê, conheceu o trabalho do Clube do Bordado, inscrevendo-se em dois cursos. “Como não tinha material, aprendi só o básico com o primeiro, mas depois comecei a ver tutoriais e fiz o segundo curso. No início ficou tudo muito ruim, mas hoje até já misturo algumas técnicas”, diz a moradora de Teresina, no Piauí.

O curso gaúcho Bordado Empoderado também cresceu por causa da internet – e muito mais rápido do que esperava a sua criadora, Bruna Antunes, de 32 anos. Após uma amiga pedir dicas sobre o tema, teve a ideia de dar um curso informal em um espaço de Porto Alegre em janeiro de 2016. Enquanto acertava os detalhes, criou um evento no Facebook. Dois dias depois, já eram 60 interessadas.

O jeito foi, então, criar novas turmas. E depois novos módulos, cursos aplicados e temáticos. Em um ano, foram 45 turmas e 400 alunos, a maioria de mulheres.

Para relaxar. “O bordado ocupa as mãos e o cérebro, é onde organizo as minhas ideias. Eu me afastei um pouco quando tinha uns 18 anos, por atribuir a ele um valor negativo, mas, quando precisava me acalmar, acabava voltando, nem que fosse para fazer pontos aleatórios num tecido”, diz Bruna, que aprendeu as técnicas com a avó.

O aspecto terapêutico do bordado também interessou a publicitária Luisa Rosa. Com 23 anos, ela frequentou um módulo do curso Bordado Empoderado há seis meses. No início, hesitou, mas insistiu em terminar o primeiro trabalho para presentear uma amiga .

“Foi do difícil ao muito fácil rapidamente. Bordei a frase ‘respira e não pira’ para ela e gostei do resultado. Ao preencher o espaço, penso em nada. Às vezes, bordo enquanto vejo TV, pois é um modo de dar um refresco e produzir ao mesmo tempo.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.