Preocupados em não reduzir a arrecadação advinda dos programas de sócio-torcedor, os clubes brasileiros têm agido para manter essa receita inalterada no momento em que outras sofreram queda drástica. As iniciativas passam pela concessão de descontos, promoções em produtos e até mesmo apelos para a paixão do público.

O Grêmio, por exemplo, decidiu adotar preços e condições especiais para os sócios que comprarem produtos nas suas lojas. Além disso, tem divulgado nas redes sociais e enviado mensagens aos sócios pedindo para que eles mantenham o apoio ao clube, incluindo declarações do presidente Romildo Bolzan. “A receita de sócio está consolidada. Fomos a principal receita com isso no futebol brasileiro no ano passado”, comenta Beto Carvalho, diretor executivo de marketing do Grêmio.

Seu maior rival, o Internacional, também tem apostado na fidelidade e paixão do torcedor. “Não é pelo aspecto econômico que vamos resolver esse problema. A retribuição será como uma medalha de guerra, algo simbólico”, diz Nelson Berny Pires, vice-presidente de marketing e mídia do clube colorado.

O Vasco fez apelo parecido. Com estratégia agressiva, fechou 2019 com 185.404 sócios, mas já perdeu sete mil em 2020. Agora, tem divulgado mensagens solicitando a renovação dos planos. O Botafogo decidiu dar descontos em renovações e novas associações, assim como nas suas lojas para os sócios ativos, sendo que aqueles com acessos a ingressos para jogos de 2020 terão direito a eles ainda que torneios só terminem em 2021. Por sua vez, o Fluminense concederá desconto extras nos ingressos de acordo com o tempo em que os campeonatos ficarem paralisados.

O Cruzeiro criou uma série de vantagens com o objetivo de reter e inibir o cancelamento do programa, com benefícios em determinadas categorias, além de estimular o resgate de pontos. A receita com o programa se tornou primordial para o clube em 2020, com grave crise financeira e o rebaixamento à Série B, a ponto de a iniciativa ter recebido o nome Sócio Reconstrução.

“É um momento diferente e inesperado para todos os clubes. Este é o nosso grande desafio, mas acreditamos na torcida, que entende a necessidade da sua contribuição. E o torcedor do Cruzeiro, neste ano em que o clube está se reerguendo, iniciando este processo de reconstrução, tem sido ainda mais ativo”, disse Bruno Bechelany,responsável pelo relacionamento com o torcedor do time, que possui 57 mil sócios.

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No Fortaleza, os preços cobrados voltaram ao patamar do ano passado e o sócio do plano mais caro vai ganhar uma camisa oficial. “O torcedor tem demonstrado uma compreensão desse momento, do esforço que tem sido feita pela diretoria e pelo elenco, com a redução dos salários, para manter os empregos dos colaboradores”, disse o presidente Marcelo Paz.

O Palmeiras anunciou que reverterá a mensalidade paga pelo torcedor no período de pausa do futebol em crédito para a compra de ingressos quando o time voltar a disputar as partidas. Já o Santos deu desconto na modalidade mais barata do seu programa e ainda divulgou um manifesto em tom de apelo ao torcedor. Em uma semana, atraiu mais 300 torcedores.

A estratégia dos clubes de permitir o pagamento posterior de parcelas dos programas sem que isso acarrete em problemas para os sócios é avaliada como interessante por especialistas, mas também com a restrição de não resolver o problema imediato da queda da receita.

“É uma atitude simpática com os sócios e boa para a imagem do programa, que pode acrescentar valor no médio/longo prazo mas não ter tanto efeito no problema imediato. Muita gente fica inadimplente sem nem perceber, por problemas na transação no cartão de crédito, e precisa tomar uma ação para regularizar a situação – essa é provavelmente a maior ameaça. Uma promessa de benefício futuro pode não fazer os sócios se engajarem neste momento para lembrarem do programa, acessarem o site e fazerem o necessário para manter-se em dia”, avalia André Monnerat, diretor de negócios da Feng Brasil.

Porém, Gustavo Herbetta, fundador e CEO da Lmid, destaca que a busca por soluções financeiras deve ser mesmo a principal frente de ações no momento em que o futebol está paralisado. “Seria impossível pensar agora, no momento de maior carência de conteúdo que atrai os sócios, que são os jogos, não agir na frente financeira. Por mais que o time possa criar ações de marketing relevantes, nesse momento talvez a melhor ação para o seu torcedor seja algo que impacte financeiramente de forma positiva. Para isso o clube precisa conhecer o perfil dos seus socios-torcedores e agir de maneira assertiva e ativa”, comenta.

A crise também pode ser uma oportunidade para alguns times diversificarem a oferta de benefícios. Mais do que ter acesso aos ingressos dos jogos, os clubes poderiam consolidar uma rede de descontos com empresas de outros segmentos, como no setor varejista, além dos patrocinadores de suas equipes. Herbetta destaca que essa alternativa teria mais êxito em um momento de crise se já viesse sendo praticada.

“Existem times com amplos programas de desconto em diferentes segmentos e que são bem sucedidos. Acredito que possa ser uma oportunidade para os clubes buscarem oportunidades locais para formarem uma rede de descontos visando ajudar o lado financeiro dos seus sócios, o que certamente ajudara na percepção de relevância dos programas nesse momento, e na retenção dos torcedores. É uma oportunidade de agregar valor aos programas de sócio-torcedor”, destaca.


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