O Fundo Monetário Internacional (FMI) deverá encontrar um equilíbrio entre ajudar os países muito endividados e se envolver mais no financiamento da transição energética, durante as reuniões anuais organizadas junto com o Banco Mundial (BM) que começam no Marrocos na segunda-feira (9).

Nesta quinta-feira, a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, em seu tradicional discurso de inauguração em Abidjã, disse que o mundo se aproximava das reuniões mundiais em meio a uma situação econômica muito melhor do que inúmeros analistas haviam antecipado.

“A economia mundial demonstrou uma resiliência notável”, afirmou, e destacou uma sólida demanda por serviços e um progresso tangível na luta contra a alta inflação.

“Isso aumenta as possibilidades de que se dê uma aterrissagem suave para a economia global”, acrescentou, em referência à perspectiva de reduzir a inflação mediante aumentos das taxas de juros e ao mesmo tempo evitar uma recessão.

Georgieva também pediu aos países-membros que “reforcem” os níveis de financiamento mediante um aumento nas cotas que pagam.

– Expectativa por anúncios –

Tanto o Banco Mundial como o FMI estão conscientes da expectativa que geram, particularmente sobre a crise climática, depois das críticas recebidas por sua suposta falta de envolvimento.

Outro dos temas que estará no centro das atenções na cidade marroquina de Marrakech (centro-sul) é a governança das duas instituições.

Os primeiros anúncios poderiam vir do BM, cujo presidente, Ajay Banga, defendeu a ideia de empréstimos a taxas preferenciais para os países emergentes e um aumento da capacidade de endividamento de 100 a 125 bilhões de dólares (R$ 517 bilhões a R$ 646 bilhões) em 10 anos.

Mas “as discussões ainda estão em curso, não devem esperar grandes anúncios”, declarou à AFP Danny Scull, do grupo de especialistas E3G.

A principal novidade nas duas instituições financeiras poderia ser a distribuição de cotas, modificada a favor dos países de baixa renda ou emergentes, o que aumentaria suas possibilidades de endividamento ante o BM e o FMI.

Tanto o Fundo como o Banco sabem que se espera que eles deem um passo, mas há um ano dizem que não podem atuar sozinhos.

Durante a campanha para sua eleição como presidente do BM, Banga defendeu envolver o setor privado com o objetivo de acelerar o financiamento de projetos nos países do Sul Global.

Na segunda-feira, em seu relatório anual sobre a estabilidade financeira mundial (GFSR), o FMI avaliou que é necessário um aumento drástico dos investimentos para alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

– Países muito endividados –

Nem todos compartilham a ideia de que se preste tanta atenção ao clima.

Vários países, principalmente os africanos, defendem que a erradicação da pobreza e a ajuda a nações imersas em uma crise de dívida deveria prevalecer sobre o financiamento da transição climática.

Mais de vinte países estão perto ou já sofrem de superendividamento na África subsaariana, lembrou na quarta-feira o Banco Mundial. Há ainda o Egito, que conta com um plano de ajuda do FMI, e a Tunísia, onde as negociações foram iniciadas.

A presidente da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), Rebeca Grynspan, lamentou na quarta-feira a lentidão das negociações sobre os países endividados.

“Gostaria que nos debates se levantasse a questão da dívida (…), é um problema importante”, insistiu, em um momento no qual quase da metade da humanidade vive em países que gastam mais com o pagamento de suas dívidas do que em educação ou saúde.

Os países africanos podem conseguir um terceiro posto no conselho de administração do BM durante as reuniões Marrakech, uma oportunidade para se fazerem ouvir com mais força.

O FMI fará o mesmo, assegurou Georgieva, que disse esperar com impaciência que seus membros validem a criação de uma terceira vaga no conselho de administração para o continente.

“Está sendo debatido sobre como o continente deveria chegar a um acordo e como deveria se dar, mas o importante é que isso significa uma voz mais forte para a África”, afirmou à AFP.

Rebecca Thissen, da Climate Action Network, considera a medida insuficiente. Para ela, o essencial seria conseguir que fossem “mais democráticos e mais transparentes” ao invés de manter um “controle dos países do Norte, em particular dos Estados Unidos”.

Como os países são acionistas, sua participação é proporcional ao PIB, o que dá um maior peso aos Estados Unidos e Europa, apesar do reequilíbrio em curso a favor dos grandes países emergentes.

As reuniões da próxima semana ocorrem em um clima geopolítico tenso, particularmente entre China e Estados Unidos, o que complica as coisas e poderia atrasar as reformas.

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