Clarice Falcão abriu o coração acerca de seu quadro de transtorno bipolar. Em entrevista ao site “Heloisa Tolipan”, a atriz e cantora de 34 anos revelou que sofreu com um diagnóstico errado de depressão antes de saber que tinha o transtorno.

“Quando entendi que tinha um comportamento que não fazia sentido com a depressão, achava que era a minha personalidade e ponto. Tinha crises e pensava ‘por que eu sou assim?’”, desabafou.

Ela também revelou que tentou extravasar seus sentimentos por meio da música: em 2013, quando lançou o álbum “Monomania”, já falava sobre saúde mental de forma “menos consciente”. “Não sabia que estava falando sobre isso. Quando comecei a fazer ‘Monomania’, já tinha tido a minha primeira crise depressiva. Depois, fui entender da minha ansiedade, da depressão e da melancolia”, compartilhou.

Médico explica diagnóstico de transtorno bipolar

À IstoÉ Gente, Dr. Arthur H. Danila, médico psiquiatra e coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida (PROMEV) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explica: “A bipolaridade, cientificamente conhecida como transtorno afetivo bipolar, é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações episódicas significativas no humor, energia e capacidade de execução de tarefas do dia a dia.”

Ele revela que, diferentemente do que muitos pensam, “não se trata apenas de oscilações normais de humor, e sim de episódios marcados de mania ou hipomania [fases de elevação de humor, energia e atividade] e depressão [fases de entristecimento, perda do interesse e motivação em atividades antes prazerosas]”, o que pode impactar a qualidade de vida de um paciente.

“Esses episódios são mais intensos e duradouros do que as flutuações habituais de humor e podem levar a comportamentos de risco, problemas nas relações interpessoais e no trabalho, além de um sofrimento psíquico significativo”, destaca.

Diagnóstico equivocado

Dr. Arthur ainda comenta os impactos de um diagnóstico equivocado, como o de Clarice Falcão. Segundo ele, medicações para uma suposta depressão unipolar podem induzir episódios de mania, por exemplo.

“Além disso, a falta de tratamento apropriado para a transtorno bipolar pode levar a uma piora progressiva dos sintomas, maior frequência e gravidade dos episódios, e impacto significativo na qualidade de vida e no funcionamento social e ocupacional do indivíduo”, continua.

Impacto do diagnóstico tardio

Por último, o especialista comenta o fato de Clarice ter sido diagnosticada tardiamente. Para ele, muitas vezes os sintomas de bipolaridade são “interpretados erroneamente como parte do desenvolvimento normal da adolescência”, ou, ainda, atribuídos a transtornos como depressão, e isso pode retardar o diagnóstico e o tratamento adequado.

“Reconhecer esses sinais precocemente é essencial para a intervenção adequada e pode melhorar significativamente o prognóstico do indivíduo”, alerta, indicando que os sintomas de bipolaridade podem incluir “episódios de humor elevado ou irritabilidade, comportamento de risco ou impulsivo, problemas de concentração e desempenho escolar variável, tristeza profunda, isolamento social, alterações no apetite ou no sono e pensamentos suicidas”.