01/12/2021 - 14:37
Quando Alex Saab foi extraditado aos Estados Unidos, Verónica Vadell teve um mal pressentimento, e não estava errada, pois, naquele dia, seu pai teve a prisão domiciliar revogada, junto com outros cinco ex-diretores da Citgo condenados na Venezuela.
Conhecidos como os “Citgo 6”, cinco venezuelanos naturalizados americanos e outro com permissão de residência permanente nos EUA, cumprem penas de entre oito e 13 anos no país sul-americano, após serem detidos em 2017, acusados de corrupção.
No entanto, a ONG especializada Fórum Penal Venezuelano os inclui entre os mais de 251 “presos políticos” da Venezuela.
Verónica, filha de Tomeu Vadell, ex-vice-presidente de refino da Citgo – a filial da estatal PDVSA nos Estados Unidos -, lembra o que sentiu quando soube da notícia da extradição de Saab de Cabo Verde para os EUA por denúncias de lavagem de dinheiro.
“Ficamos preocupados porque já vimos antes como o governo da Venezuela reage quando certas coisas acontecem nos Estados Unidos”, explicou Verónica à AFP.
Enquanto Saab, empresário colombiano e aliado-chave do presidente Nicolás Maduro, era extraditado em 16 de outubro, os “Citgo 6” eram levados ao Helicoide, uma das prisões mais temidas do serviço de inteligência da Venezuela (Sebin).
“Se alguém duvida que ele [Tomeu] é um refém, esta última detenção confirma isso”, afirmou a esposa de Vadell, Dennysse. “Nenhum governo deve brincar assim com a vida das pessoas”, acrescentou.
Além de Tomeu Vadell, cumprem pena José Pereira Ruimwyk, ex-presidente da Citigo, assim como os ex-diretores Jorge Toledo, Gustavo Cárdenas, José Luis Zambrano e Alirio Zambrano.
– ‘Abram os corações’ –
Essa não foi a primeira vez que os seis foram levados de volta à prisão, pois, em fevereiro de 2020, após a visita do opositor Juan Guiadó à Casa Branca, aconteceu o mesmo.
Na época, o episódio foi considerado uma “desaparição”, já que nem o tribunal que havia ditado a prisão domiciliar sabia onde eles estavam, segundo Jesús Loreto, o advogado de Vadell. Este fato, inclusive, chegou ao conhecimento do grupo de trabalho de desaparecimentos forçados das Nações Unidas.
“É evidente que as razões das prisões não são jurídicas, mas correspondem à intenção do governo de utilizá-los, de alguma maneira, no contexto de suas relações com os Estados Unidos”, opina Gonzalo Himiob, diretor do Fórum Penal Venezuelano.
Os detidos são acusados de firmar irregularmente um contrato de refinanciamento, sem o conhecimento do governo venezuelano, embora Loreto garanta que há provas de que “esse contrato jamais foi assinado”.
Além disso, especificamente em relação a Vadell, a sentença diz que ele deve permanecer preso porque, dado o seu cargo, ele “se reunia periodicamente com o presidente da Citgo e, em virtude disso, cometeu o crime de associação para delinquir”, segundo Loreto.
A prisão de Vadell, considerada “arbitrária” por sua defesa, foi incluída no relatório de setembro de 2021 da Missão Internacional Independente da ONU de Apuração de Fatos sobre a Venezuela.
Enquanto isso, sua família clama por sua liberdade. “Todas essas acusações são falsas […] abram os corações e libertem ele por favor!”, exclama Dennysse.