Muitas pessoas que foram infectadas pela Covid-19 podem enfrentar uma perda significativa para a sua qualidade de vida: a do olfato. A anosmia, nome dado a essa condição, tem sido tratada com fisioterapia e medicações, mas não têm tido sucesso em todos os casos.

Observando isso, o médico otorrinolaringologista Ronaldo Carvalho Jr. resolveu pensar em outras maneiras de ajudar na recuperação desses pacientes. Professor no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), Ronaldo está prestes a testar uma técnica cirúrgica para devolver a capacidade de sentir cheiros.

A iniciativa de Carvalho já conta com cinco pessoas interessadas em passar pelo procedimento nesta fase experimental.

“Já há vários estudos na literatura internacional e nacional mostrando que 85% dos pacientes que têm Covid sintomática desenvolvem anosmia. Desses 85%, 30% vão ficar com uma hiposmia, que é não sentir os cheiros mais fortes, ou seja, ficam sem a mesma efetividade, e de 3% a 5% ficam com uma anosmia definitiva”, disse o otorrinolaringologista, que trabalha no desenvolvimento da técnica ao lado de Alex Franco de Carvalho, médico especializado na microcirurgia de nervos periféricos.

De acordo com O Globo, a base para a operação que eles propõem está no conhecimento de cirurgias que já são feitas com sucesso para a anosmia provocada por outras causas. “A mais frequente é o trauma cranioencefálico, mas a anosmia pode ser uma sequela também após a retirada de tumores de dentro do nariz que estão ocupando a região olfatória”, explicou Ronaldo.

O objetivo do processo cirúrgico é transferir para a região da mucosa do nariz que está praticamente morta novos nervos que funcionem. Para realizar isso, os especialistas vão buscar na perna do paciente um nervo que possa ser enxertado no rosto.

“O nervo funcionante que a gente vai utilizar é um nervo supra-orbitrário, que é um ramo do nervo oftálmico. Como esse nervo supra-orbitrário é muito pequeno, muito curtinho, ele não chega até o nariz, então temos que interpor uma ponte nervosa, ou seja, usar um outro nervo. Então a gente vai pegar um nervinho da perna do paciente, um nervo sural funcionante”, detalhou Carvalho.

A retirada do nervo pode causar uma sensação temporária de dormência no pé, que deve passar com o tempo, tendo a sensibilidade do local compensada com o trabalho de outros nervos.

Conforme a reportagem do O Globo apurou, o local adequado para a “instalação” dessa ponte entre o nervo retirado da perna e o nervo da região dos olhos será encontrado pelos cirurgiões com o auxílio de técnicas de endoscopia.

O tempo da cirurgia deve ficar entre cinco e seis horas. Tudo exige muita delicadeza porque “os nervos, às vezes, são tão finos que não conseguimos ver a olho vivo, só no microscópio”, concluiu Ronaldo.