Cirurgia de Chico Buarque reacende debate sobre condição neurológica silenciosa

O cantor recebeu alta nesta quinta-feira, dia 5, após ter sido submetido a uma cirurgia no crânio, no Hospital Copa Star, no Rio de Janeiro

Chico Buarque
Chico Buarque Foto: Instagram

Na manhã desta quinta-feira, 5, o cantor Chico Buarque, de 80 anos, recebeu alta dias após ser submetido a uma cirurgia no crânio, realizada na terça-feira, 3, no Hospital Copa Star, no Rio de Janeiro. O procedimento teve como objetivo reduzir a pressão intracraniana causada por um acúmulo de líquido no cérebro, condição conhecida como hidrocefalia de pressão normal. A operação foi conduzida pelo neurocirurgião Paulo Niemeyer e durou cerca de uma hora.

Segundo o G1 e a revista Quem, Buarque teve alta após uma avaliação médica final e já está em casa.

Uma publicação na conta oficial do veterano no Instagram revelou que a cirurgia — para tratar um quadro de hidrocefalia de pressão normal — foi realizada rapidamente e sem complicações: “O procedimento já estava programado e foi conduzido pelo neurocirurgião Dr. Paulo Niemeyer Filho.”

O diagnóstico foi feito durante um check-up de rotina, o que evitou complicações mais graves, como comprometimento da fala e da locomoção. No último domingo, 1º, Chico chegou a subir ao palco visivelmente emocionado ao lado de Gilberto Gil, demonstrando dificuldade para caminhar.

Segundo o neurocirurgião Dr. Victor Hugo Espíndola, especialista em doenças cerebrovasculares, “pressão intracraniana é a força que existe dentro do crânio, resultado do equilíbrio entre três elementos: o cérebro, o sangue e o líquido cerebrospinal, que é o líquido que circula no sistema nervoso.”

O especialista explica que, quando esse equilíbrio se rompe e a pressão aumenta, o cérebro sofre uma compressão que gera sintomas importantes. “O paciente pode apresentar dor de cabeça muito intensa, vômitos em jato, visão turva, sonolência, desmaios e, em casos mais críticos, até falência respiratória”, diz Victor Hugo à reportagem de IstoÉ Gente.

O médico ainda destaca que esse aumento de pressão pode ocorrer por diferentes causas. “Geralmente, isso acontece por traumas, sangramentos, infecções, tumores ou acúmulo excessivo de líquido dentro do cérebro”, afirma.

Sobre os cuidados necessários, o neurocirurgião esclarece que existem diferentes formas de tratar a pressão intracraniana. “Em muitos casos, usamos medicamentos que ajudam a reduzir o inchaço e controlar a pressão. Quando isso não é suficiente, lançamos mão de procedimentos como a drenagem do líquido ou a realização de uma cirurgia chamada craniectomia descompressiva, em que retiramos temporariamente uma parte do osso do crânio para que o cérebro tenha espaço para desinchar de forma segura”, explica.

O Dr. Victor Hugo Espíndola completa que, após o controle da pressão, o osso é recolocado e o paciente segue em acompanhamento para tratar a causa do problema e evitar novas complicações.

Condição neurológica silenciosa

O Dr. Guilherme Rossoni, neurocirurgião especialista no tratamento de doenças da coluna e do crânio, explica: “É uma condição em que o cérebro acumula um excesso de líquido que chamamos de líquor — uma espécie de ‘água’ que circula por dentro e ao redor do cérebro. Mesmo com esse acúmulo, a pressão dentro da cabeça se mantém aparentemente normal, por isso o nome ‘pressão normal’. Mas esse excesso pode afetar o funcionamento do cérebro, principalmente em áreas ligadas à memória, à locomoção e ao controle da urina.”

A hidrocefalia de pressão normal atinge entre 0,2% e 2,9% dos idosos e é frequentemente confundida com o envelhecimento natural. “Ela pode ser confundida com Alzheimer ou Parkinson, por isso é importante ficar atento aos sintomas da chamada tríade clássica: incontinência urinária, dificuldade para andar e problemas de memória ou raciocínio. Muitos acreditam que isso faz parte do envelhecimento, quando, na verdade, pode haver tratamento eficaz.”

O tratamento envolve a implantação de uma válvula com cateter dentro do cérebro, que drena o excesso de líquor para a região abdominal, onde o corpo o reabsorve naturalmente: “É um procedimento seguro e bastante comum. Funciona como um caminho alternativo para o líquor, aliviando o acúmulo e os sintomas. A maioria dos pacientes percebe melhora já nos primeiros dias após a cirurgia.”

A recuperação leva de duas a cinco semanas, dependendo da idade e do estado geral do paciente. O pós-operatório requer cuidados, como evitar esforços físicos, seguir orientações médicas e ficar atento a sinais de infecção, como febre e vermelhidão no local da incisão.

O Dr. Guilherme reforça que o diagnóstico precoce faz toda a diferença: “Quanto mais cedo essa condição for identificada, melhores as chances de recuperação. A atenção da família e dos profissionais é fundamental para evitar que o quadro seja interpretado apenas como ‘coisas da idade’.”

Referências Bibliográficas

Victor Hugo Espíndola
CRM-DF: 18.992
RQE nº 14.807 / RQE nº 17.941

Neurocirurgião pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e pela Sociedade Brasileira de Neurorradiologia Diagnóstica e Terapêutica, especializado em Neurocirurgia Endovascular e Neurorradiologia Intervencionista.
Especialista em patologias vasculares do sistema nervoso central (AVC, aneurismas cerebrais, malformações arteriovenosas, estenoses arteriais, fístulas durais arteriovenosas, tromboses venosas e demais doenças cerebrovasculares).

Dr. Guilherme Rossoni é neurocirurgião com ampla atuação no tratamento de doenças da coluna vertebral, cérebro e dor crônica. Natural de João Neiva (ES), formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo e concluiu residência médica em Neurocirurgia pelo Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo.

Com uma carreira marcada pelo aperfeiçoamento contínuo, Dr. Guilherme é membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e possui formações complementares em cirurgia minimamente invasiva da coluna, cirurgia endoscópica e técnicas avançadas de centros como o IRCAD e o World Spine Center.