O senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI) criticou a primeira-dama Janja da Silva pelo episódio envolvendo o presidente chinês Xi Jinping, afirmando que ela “ultrapassou todos os limites”. Para o parlamentar, a defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por parte de Janja no incidente demonstra que o presidente é submisso às influências dela, o que, segundo ele, compromete a credibilidade do governo devido às interferências da primeira-dama na gestão.
Janja tem sido alvo da oposição após falas polêmicas sobre empresários e empresas de outros países, como China e Estados Unidos. Outro ponto de impasse nos bastidores do Palácio do Planalto é a interferência da primeira-dama em reuniões com ministros e a voz ativa em algumas decisões do governo. As viagens internacionais e a falta de transparência na agenda dela também são alvos de críticas tanto de opositores quanto de governistas.
+ Ciro Nogueira defende saída de federação do governo Lula: ‘Não faz sentido’
+ CPMI do INSS: Ciro Nogueira diz que é ‘inútil’ governo tentar emplacar relatoria
Na avaliação do parlamentar, as polêmicas protagonizadas pela primeira-dama “constrangem a diplomacia” e o próprio petista, e é necessário que Lula minimize a influência de Janja no Planalto.
“Passou de todos os limites. Algumas situações constrangeram o país, constrangeram a nossa diplomacia, constrange o próprio presidente, que nessa última vez foi desautorizado e desmentido publicamente pela primeira-dama. Eu, que tenho um carinho pelo presidente Lula, um respeito por ele, espero que ele reveja essa posição. Não tem mais cabimento”, disse, em entrevista à ISTOÉ.
Nos últimos meses, Janja foi protagonista de polêmicas com o bilionário Elon Musk e até com o presidente da China, Xi Jinping. No ano passado, xingou Musk durante um evento de combate a desinformação do G20. Durante sua fala, ela disse que o X favorece a direita e permite a publicação de desinformação.
Já na semana passada, em um jantar, a primeira-dama questionou o Xi Jinping sobre ações para que o TikTok, rede social chinesa, parasse de favorecer a direita. A conversa reservada foi vazada para a imprensa e, de acordo com pessoas presentes no encontro, causou constrangimento.
O vazamento da fala causou revolta em Lula, que voltou da China dando bronca em seus ministros. A principal suspeita da cúpula petista caiu sobre Rui Costa, ministro da Casa Civil, que tem relação conturbada com Janja.
Para tentar apaziguar a situação, Lula creditou a ele o começo da conversa sobre o TikTok com o presidente chinês. Em seguida, a primeira-dama criticou a repercussão e afirmou que “não ficará calada”.
Ciro Nogueira ainda disse que as ações da primeira-dama e de ministros do governo mostram que Lula é um “presidente mandado”, o que colabora para a queda na popularidade do petista.
“O Brasil elegeu o Lula, não foi a Janja. Então, por mais que você tenha que respeitar o papel da mulher e o papel do homem que está a seu lado, essas pessoas têm que ter um limite e essa imagem da pessoa mandada, que não tem autonomia, tem prejudicado muito a autoridade de um presidente da República. E isso tem que ser revisto e eu espero que isso ocorra o mais rapidamente possível”, ressaltou Ciro Nogueira.
“Muita gente pensa que o Lula está perdendo perdendo popularidade só por conta de inflação, porque não entregou a picanha, e não é isso. Eu vejo isso muito claramente nas pesquisas. O Lula hoje tem uma imagem de ultrapassado, antiquado e uma pessoa mandada. Isso tem acabado com a imagem. E é uma pessoa que não está dando mais esperança”.

Em entrevista à ISTOÉ, Ciro Nogueira defendeu Jair Bolsonaro e disse que não houve plano para tentativa de golpe de Estado
Ciro Nogueira defende Bolsonaro
Ciro Nogueira ainda defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) das críticas por não ter repassado à faixa presidencial para Lula em 2023. De acordo com ele, a decisão foi tomada por conta da polarização do momento.
Na época, Bolsonaro resolveu deixar o país dias antes da posse do petista e se hospedou nos Estados Unidos até março de 2023. O vice-presidente na época, o hoje senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), também recusou participar da solenidade. O repasse da faixa ficou a cargo da catadora de recicláveis Aline Souza.
Ao ser questionado sobre o assunto, Nogueira disse duvidar que Lula também entregasse a faixa para a família Bolsonaro. “´É por conta do conflito que teve com Lula. Muita gente pergunta, ‘ah, o Bolsonaro não entregou a faixa’. Duvido que o Lula entregaria uma faixa para o Bolsonaro”.
“Eu duvido. Espero até estar errado, mas com esse conflito, com o país dividido como nós temos hoje, isso não vai ocorrer. Imagina o Lula entregando uma faixa para o Eduardo, para o Flávio, para a dona Michelle. Não vai entregar. Vai pedir para o Geraldo Alckmin fazer essa entrega”, concluiu.
Ciro Nogueira ainda defendeu Bolsonaro das acusações de participar do plano de golpe de Estado arquitetado dentro do Palácio do Planalto. O ex-presidente é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por comandar as ações golpistas. Além dele, outros ministros do primeiro escalão de seu governo, como Walter Braga Netto e Augusto Heleno, também são acusados de participar do roteiro golpista.
Na época ministro-chefe da Casa Civil, a pasta mais importante do governo, Nogueira afirma ser impossível a arquitetação do plano sem seu conhecimento. Ele lembra ainda do princípio da greve dos caminhoneiros após o resultado das eleições de 2022 e justificou o pronunciamento do ex-presidente como uma prova de que não houve o intento de golpe.
“Como é que o ministro da Casa Civil não foi citado em nada e teve uma tentativa de golpe. Isso é impossível de ter acontecido. E eu presenciei algumas situações que foram muito importantes. E o ponto mais difícil dessa discussão toda foi quando estava tendo a greve dos caminhoneiros, que ali que eu me preocupei porque ia ter um caos, as pessoas iam ficar sem combustível, sem alimentos, os hospitais iam parar com falta de oxigênio, os aeroportos estavam parando”, afirma.
“Se o Bolsonaro tivesse vontade de fazer golpe, aquele era o momento perfeito. Naquele dia, que ele podia ter dito: ‘olha, não vou fazer’. Ele prontamente atendeu ao meu apelo para ele ir à rua e me deixar começar a transição no país.”, concluiu.