A nomeação de Ciro Nogueira como ministro da Casa Civil representa um estelionato eleitoral e enterra a campanha que levou Bolsonaro ao Planalto. O presidente se elegeu com o discurso de acabar com a velha política, tirando o Centrão do poder e preenchendo o governo com “nomes técnicos”. Agora, o próprio líder do grupo fisiológico assume o cargo mais estratégico do Planalto, para fazer a articulação política com o Congresso e coordenar todos os ministérios.

Ou seja, nunca a velha política teve tanto poder, desde a criação do Centrão na época da Constituinte. Quanto aos quadros técnicos, já ficou claro também que o elenco do presidente é de nomes desqualificados, que desmontaram todas as áreas vitais da gestão: saúde, educação, ciência, cultura etc.

O pilar econômico baseado no liberalismo também foi uma farsa vendida em 2018. O ministro Paulo Guedes não privatizou, engavetou as reformas e permanece obcecado com sua sanha arrecadatória. A atual mudança no Imposto de Renda é apenas um arremedo para seu desejo de recriar a CPMF. Na prática, o “superministério” do Posto Ipiranga não disse a que veio, perdeu todos os principais membros e agora é desmontado melancolicamente com a recriação do Ministério do Trabalho, que vai levar 85% das verbas sob guarda-chuva da antiga pasta.

De quebra, o novo ministério será entregue a Onyx Lorenzoni, da tropa de choque bolsonarista. Trata-se de outra figura do baixo clero que teve uma trajetória parlamentar tão medíocre quanto o presidente, fez um péssimo trabalho no Ministério da Cidadania e agora vai ter controle sobre o maior orçamento do País, o INSS, além de poder preencher centenas de cargos estratégicos nos currais eleitorais.

O maior estelionato de todos, no entanto, foi a divulgação da ideia de que Bolsonaro era contra a corrupção. Infelizmente, nessa esparrela até o ex-ministro Sergio Moro caiu. Abriu mão de sua bem-sucedida carreira como juiz e delegou seu prestígio para Bolsonaro, que conseguiu em um prazo recorde desmontar a Lava Jato, aparelhar a Justiça e a PF e enfraquecer a frágil legislação que combatia a impunidade. Esse erro foi fatal para o legado de Moro. E a evidência de que o presidente escancarou as portas de Brasília para oportunistas e incompetentes também está fazendo o governo de Bolsonaro naufragar.

Dificilmente o mandatário vai recuperar a popularidade, conquistada apenas porque o destino lhe sorriu em 2018. A oportunidade de se tornar um estadista foi perdida. A história o julgará de forma inclemente. O Judiciário, que tem um encontro marcado com o presidente assim que perder o foro privilegiado, também será cruel. Porém, antes disso, os eleitores poderão desfazer o equívoco do pleito de 2018, quando foram ludibriados.