Segundo candidato à presidência da República a ser entrevistado pelo Jornal Nacional, nesta terça-feira (23), Ciro Gomes (PDT), chegou a dizer após o debate, às vésperas do primeiro turno, em 2018, que “nunca mais” pisaria na emissora.

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À época, o debate entre os presidenciáveis contou com Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Geraldo Alckmin (então PSDB e hoje, PSB), Marina Silva (Rede) e Fernando Haddad (PT), além do próprio Ciro. Jair Bolsonaro, então no PSL e hoje no PL, foi convidado, mas não participou justificando que ainda se recuperava do atentado que havia sofrido, no qual foi esfaqueado.

Após o debate, ao chegar em seu camarim, Ciro ficou irritado ao encontrar lá um oficial de Justiça que estava ali para entregar a ele notificação de ação movida pelo então ex-prefeito de São Paulo João Doria (PSDB), candidato ao governo do Estado na ocasião. O pedetista o chamou de “farsante”, o que motivou a ação do tucano.

Ciro estranhou o fato de o caso estar na Justiça do Rio, sendo ele do Ceará e Doria, de São Paulo. Bastante contrariado, o candidato deu uma entrevista após o debate e disse que “a Globo não manda” no voto dos brasileiros”, e deixou o Projac irritado, com uma promessa: “Nunca mais quero pisar neste lugar”.

Embates com Renata Lo Prete

Ainda em 2018, Ciro Gomes também foi entrevistado por Renata Lo Prete, no Jornal da Globo, assim como os candidatos mais bem colocados nas pesquisas àquele momento, com exceção de Bolsonaro, hospitalizado por conta do atentado.

Na ocasião, o pedetista se incomodou com a entrevistadora em alguns momentos, alegando que ela não o deixava responder as questões, interrompendo-o com frequência.

A âncora do JG havia feito uma questão a Ciro sobre a proposta que ele apresentava à época de que, caso eleito, tiraria o nome dos brasileiros devedores do Serasa, usando grupos de avalistas desses cidadãos em dívida como garantidores de uma renegociação da mesma.

O candidato respondia a questão, mas acaba interrompido por Lo Prete para que ela reforçasse que havia lido na cartilha do candidato sobre a proposta que esses avalistas seriam outros devedores.

“Deixa eu terminar, Renata, por favor. Não é possível perguntar da coisa, pôr dúvida na coisa e na hora que eu estou explicando você interromper”, disse Ciro.

“Candidato, quando a gente pergunta sobre essa proposta, a gente não está perguntando por de alguma maneira ignorar que as pessoas buscam por uma solução, é exatamente para entender”, rebateu a jornalista.

“A única coisa que me aborrece, é me interromper quando eu tô respondendo”, continuou Ciro.

Em outro momento da entrevista, Lo Prete comenta sobre o período em que Ciro foi deputado federal em Brasília, entre 2007 e 2011, e que durante seu mandato faltou a quase metade das sessões deliberativas e “não aprovou nenhum projeto”.

Nesse momento, Ciro diz que “não apresentou projeto, e não que não aprovou”, duas coisas diferentes. O candidato fala por cima da entrevistadora ininterruptamente, ainda que ela continue tentando fazer sua questão.

“No parlamento sueco, ninguém julga um bom deputado por quantos projetos ele apresentou. Só nessa vidinha ridícula do Brasil. Isso é ridículo, esse negócio de produzir lei por volume é ridículo. É sintoma de república de banana. Você acha que eu não tenho ideia?”, questiona Ciro.

Embate com Bonner

Ainda na campanha para a Presidência em 2018, Ciro também foi entrevistado no Jornal Nacional, pelos mesmos âncoras que o entrevistarão nessa terça, Renata Vasconcellos e William Bonner.

Na ocasião, o candidato foi confrontado especialmente pelo apresentador do JN sobre a confiança que ele depositava no presidente do PDT, Carlos Lupi, que à época respondia a inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), era réu por improbidade administrativa além de ser acusado de corrupção por um delator.

“O senhor disse que bota a mão no fogo pelo presidente do seu partido, Carlos Lupi. O senhor disse que acusações contra ele são ‘malévolas’ e que, uma vez eleito presidente da República, Carlos Lupi ocuparia o cargo que ele quisesse em seu governo”, começa Bonner.

Nesse momento, o âncora do Jornal Nacional lê o histórico de Lupi, dizendo que ele responde a um inquérito no STF por supostamente ter comprado apoio político para a então presidente Dilma Rousseff (PT), na eleição de 2014, assim como era acusado por um delator de ter recebido cerca de R$ 100 mil reais em mesadas de um esquema de corrupção do ex-governador do Rio Sergio Cabral.

Bonner afirma ainda que Lupi era réu por improbidade administrativa no Distrito Federal, assim como teve sua demissão recomendada pela Comissão de Ética da Presidência, quando o presidente do PDT ocupava um cargo no governo de Dilma, e que de fato foi demitido na ocasião.

“Qual é a coerência de se dizer intransigente com a corrupção e, ao mesmo tempo, o senhor escolher para integrar o seu governo uma pessoa com um histórico como esse de Carlos Lupi para que ele ocupe o cargo que ele quiser?”, questiona Bonner.

“Desculpe, eu não escolhi ninguém para ser ministro. Se eu for eleito, o Carlos Lupi terá o cargo que quiser, porque eu tenho a convicção que ele é um homem de bem. A mim, me surpreende, na minha opinião, essas informações não estão assentadas, porque a informação que eu tenho é que ele não responde por nenhum procedimento”, diz Ciro.

“Ele é réu, [as informações] estão todas checadas, candidato”, rebate Bonner. “Réu ele não é, eu tenho certeza que ele não é. Então eu estou surpreendido nesse momento”, reforça Ciro. E Bonner rebate mais uma vez: “Ele é réu, ele é réu no Distrito Federal. O senhor mantém a sua posição de oferecer a Carlos Lupi no seu governo o cargo que ele quiser?”.

“Eu não ofereci nada a ninguém, mas o Carlos Lupi tem a minha confiança cega”, diz Ciro. Renata questiona: “Cega?”, e o candidato finaliza reforçando a resposta: “Cega, absolutamente cega”.